quinta-feira, 25 de maio de 2017

Por que algumas imagens estáticas causam convulsões

A maioria das pessoas hoje em dia está ciente de que luzes estroboscópicas têm o potencial de causar convulsões epilépticas fotossensíveis. Um troll supostamente causou uma convulsão em um jornalista com um tweet.. Um episódio de Pokémon mandou quase 700 crianças japonesas para o hospital. Mas imagens fixas também podem  causar convulsões, e os cientistas estão começando a descobrir agora como isso funciona.
Ainda existe muito que não sabemos sobre desencadeadores de convulsões, já que não existe uma forma confiável de testá-los em humanos ou animais. Um time de pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Utrecht queria saber o que estava acontecendo no cérebro que pudesse ajudá-los a entender melhor por que algumas imagens fixas causam convulsões e outras não.
“Um tipo específico de onda cerebral… chamada oscilação gama, é particularmente afetada por certos padrões visuais”, Dora Hermes, principal autora de uma correspondência publicada na segunda-feira 08 de maio na Current Biology, disse ao Gizmodo. Um padrão de barras pretas e brancas pode induzir essas oscilações gama no córtex visual do cérebro, a parte do cérebro que processa imagens — e em um cérebro epiléptico, os pesquisadores levantaram a hipótese de que essa oscilação esteja ligada a convulsões.
Oscilações gama são um padrão cerebral muito discutido, caracterizado por neurônios ativando ritmicamente cerca de 50 vezes por segundo. Os pesquisadores revisitaram diversas pesquisas anteriores e descobriram associações entre imagens que causam convulsões e aquelas que produziam oscilações gama de banda estreita em indivíduos saudáveis. Basicamente, se a imagem fizesse os neurônios do córtex baterem em uníssono com as frequências de oscilação gama, era mais provável que causasse convulsões em indivíduos epilépticos. As imagens que faziam os neurônios serem ativados fora do ritmo tinham menos chance de causar convulsões.
“Nós levantamos a hipótese de que o circuito que produz essas oscilações pode também provocar convulsões com epilepsia fotossensível”, Hermes disse.
O neurologista Khalid Hamandi, da Universidade de Cardiff, me apontou que a correspondência de Hermes e seus coautores não apresenta nenhum dado novo, apesar de resumir muito bem informações que já tínhamos. A ligação entre oscilações gama e ataques epilépticos foi observada em um estudo de 2003 (mas não com imagens fixas), por exemplo.
Mas outro professor, György Buzsáki, da Universidade de Nova York, disse ao Gizmodo em um email que ele achou o timing da pesquisa bem importante. “Apenas um ano atrás, eu não teria nem olhado para essa pesquisa. No entanto, esse ano a história é diferente.” Você talvez tenha ouvido um recente episódio do Radiolab sobre um novo estudo demonstrando que a luz piscando nessa frequência gama em ratos que sofrem de Alzheimer reduz o nível de um tipo de placa descoberta em seus cérebros doentes. Isso sugere que um futuro tratamento para Alzheimer pode envolver induzir esses padrões nos pacientes, potencialmente causando convulsões.
“Acho que várias companhias vão tentar vender seus dispositivos nos próximos anos, e muitas pessoas vão tentar piscar as luzes com esperança de desacelerar o progresso de doenças degenerativas”, Buzsáki escreveu. “Sem entender primeiro os mecanismos, pode ser uma atividade perigosa. Esse relatório aponta pelo menos um dos perigos, especialmente dado que uma grande porção dos pacientes com Alzheimer já é propensa a atividades epilépticas.”
Esse trabalho menciona apenas barras pretas e brancas, mas agora os pesquisadores querem testar se outras imagens fixas podem induzir essas oscilações gama também — os pesquisadores ainda não sabem. Por enquanto, existe muita experimentação à frente. “Eu gostaria de enfatizar que isso é uma releitura da literatura”, disse Hermes. “Estamos trabalhando em testar isso ao medir diversas populações de pacientes. Essa pesquisa é mais uma hipótese.”
Fonte: Gizmodo Brasil - Uol

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Anvisa inclui Cannabis sativa em lista de plantas medicinais

Agência Nacional de vigilância Sanitária (Anvisa) incluiu a Cannabis sativa na Lista Completa das Denominações Comuns Brasileiras (DCB). Trata-se de uma lista que define os nomes oficiais de fármacos, princípios ativos, plantas medicinais e outras substâncias de interesse médico no país.
A medida não modifica as regras relativas à maconha no país e não libera seu uso como planta medicinal em qualquer circunstância. Apenas formaliza a Cannabis como um componente possível em futuros pedidos de registro de medicamentos ou outras regulamentações que podem ser discutidas sobre seu uso como planta medicinal.
A inclusão faz parte da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 156, de 5 de maio de 2017, que foi publicada no Diário Oficial da União em 8 de maio.
Decisões anteriores
A agência já tinha aprovado, em janeiro de 2017, o registro do primeiro remédio à base de maconha no Brasil. Com o nome comercial Mevatyl, o medicamento contém tetraidrocanabinol (THC) em concentração de 27 mg/mL e canabidiol (CBD) em concentração de 25 mg/mL. A droga já é aprovada em outros 28 países, incluindo Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Suíça e Israel, onde é conhecido por Sativex.
O medicamento é indicado para pacientes adultos com espasticidade de grave a moderada relacionada à esclerose múltipla que não respondam a outros medicamentos e que demonstrem uma boa resposta ao Mevatyl após um período inicial de tratamento.
Em 2016, a Anvisa autorizou a prescrição e manipulação de medicamentos a base de Cannabis. A autorização vale tanto para medicamentos registrados na Anvisa que contenham as substâncias quanto para produtos que contenham as substâncias a serem importados em caráter de excepcionalidade para tratamento de pacientes brasileiros.
Em janeiro de 2015, a Anvisa já tinha decidido retirar o canabidiol da lista de substâncias de uso proscrito, o que abriu caminho para que a comercialização de medicamentos com a substância fosse facilitada no país. Desde então, está em curso uma flexibilização da importação de medicamentos contendo as substâncias.

Fonte: Gazeta Online

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Cérebros empenhados em desvendar o cérebro

Nas últimas três décadas a neurociência vem colocando em xeque muito do que sabíamos, ou pensávamos saber, sobre o funcionamento do cérebro. Talvez uma das mais importantes constatações – base para uma série de outras, aliás – seja a de que o complexo emaranhado de circuitos cerebrais está em constante transformação. Com o desenvolvimento tecnológico, as barreiras da biologia e da medicina foram rompidas e os pesquisadores se valem de conhecimentos da física, da informática, da matemática, da engenharia computacional para ampliar conhecimentos. Até porque, quanto mais estudos são feitos, mais fica claro que ainda sabemos pouco – até mesmo sobre funções de áreas cerebrais.
Uma frente importante, que deve marcar grande avanço na área neurocientífica, é o projeto Brain Research through Advancing Innovative Neurotechnologies (BRAIN), lançado em abril de 2013, nos Estados Unidos, com o objetivo ambicioso de ampliar significativamente a compreensão do funcionamento da mente humana – e, em última instância, encontrar formas mais eficientes de tratar, prevenir e curar quadros graves como Alzheimer, esquizofrenia, autismo, epilepsia e traumatismos no cérebro, que afetam milhões de pessoas em todo o planeta.
Hoje, passados quatro anos e investidos mais de US$ 1,5 bilhão no programa, um dos grandes desafios a serem vencidos ainda está relacionado ao aprimoramento de métodos e tecnologias capazes de medir e acompanhar a atividade cerebral com precisão. Por isso, a primeira fase da iniciativa, ainda em andamento, tem como foco o desenvolvimento de novos métodos e equipamentos para o monitoramento da atividade cerebral. O curioso é que essa pequena maravilha que cada um de nós carrega dentro da cabeça seja ainda tão misteriosa e exija tanta tecnologia e tanto trabalho (cerebral) para que possamos entender suas dinâmicas.
Em tempos de tanta incerteza política, econômica e social parece difícil fazer prognósticos, mas é reconfortante saber que iniciativas como a BRAIN continuam em curso – e podem trazer incontáveis possibilidades de diminuir o sofrimento humano. O caminho é longo, mas é reconfortante saber que, de uma forma ou outra, estamos no caminho. 

Fonte: Mente e Cérebro

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Profissionais da educação precisam conhecer mais sobre epilepsia

O conhecimento sobre a epilepsia e como lidar com os pacientes no ambiente escolar é imprescindível para transformar a escola num ambiente seguro e inclusivo

Depois da família, a escola é a instituição mais importante para construção da identidade social de uma pessoa. Conceitualmente, essa identidade é o modo como se é percebido pela sociedade e a visão que se tem de si mesmo. No contexto da epilepsia, muitas vezes, o paciente é visto com olhares preconceituosos, principalmente, quando está exposto em momentos de crise, como a convulsão, impactando diretamente nas relações sociais. Quando isso acontece no ambiente escolar é preciso que os professores estejam atentos e saibam lidar com a situação, o que significa entender melhor a doença.
Porém, na maioria dos casos, os docentes não têm informação suficiente para lidar com essas manifestações, o que faz com que o estudante com epilepsia não receba a atenção adequada e necessária, tendendo a se isolar.
A recorrente manifestação de discriminação, principalmente no ambiente escolar, afeta de diversas formas tanto a identidade social como pessoal do estudante com epilepsia, o que inclui a autoestima, autoconfiança e motivação. Por isso, é muito importante que diretores, coordenadores, professores e todos os funcionários que estão nesse ambiente estejam preparados, não só para lidar com a criança e o jovem com epilepsia, mas inclui-lo no ambiente social e evitar que os colegas tenham medo ou preconceito.

Cognição e aprendizagem

De acordo com a neurologista Dra. Maria Luiza Manreza, “pessoas com epilepsia, mesmo com crises não controladas, não necessariamente apresentam algum tipo de dificuldade cognitiva. Em alguns casos, porém, podem ocorrer alguns prejuízos em funções cerebrais, como a memória, atenção e raciocínio, o que depende de diversos fatores, como o tipo e a frequência das crises e a dosagem dos medicamentos utilizados para tratamento”, explica.
Em alguns casos, esses prejuízos podem repercutir no processo de aprendizagem. Dessa forma, os professores têm o papel de se aproximar da criança em questão e entender sua condição. Além disso, é importante estabelecer uma comunicação entre a escola e a família e, se houver necessidade, solicitar relatórios dos profissionais da saúde que a acompanham para facilitar a percepção da singularidade do caso, com a finalidade de otimizar o processo de aprendizagem.

Preconceito e bullying

É na transição entre a infância e a adolescência que se busca desenvolver competências para incluir-se no mundo adulto. Por isso, no momento em que a pessoa com epilepsia se sente impotente para seguir nessa direção e se questiona sobre a própria capacidade, a relação com as pessoas que estão a sua volta se torna mais difícil.
“Tratar inadequadamente uma pessoa enquanto ela está tendo uma crise pode desencadear uma disseminação de preconceitos e estigmas, maus tratos e bullying por parte de quem está por perto, principalmente, os colegas”, completa a médica.

Papel do profissional de educação

Os profissionais de educação têm o papel de observar o grau de iniciativa, participação e de motivação das crianças com epilepsia. Diferentes estímulos à cognição e expressões de credibilidade por parte do professor são fatores que também podem beneficiar a autoconfiança e seguraça do paciente, fazendo com que seu rendimento seja cada vez melhor.
Além disso, os profissionais de educação devem  estar preparados para agir diante de uma crise, sendo ela uma convulsão, crise de ausência, ou qualquer outra, servindo de modelo para todos aqueles que estiverem presenciando o ocorrido, fazendo com que absorvam o aprendizado e ajam de forma correta em situações futuras. Reverter o preconceito e estigma é uma questão de atitude, in loco, indispensável no momento em que a crise eclodir.

Projeto Escola

Recentemente, a Associação Brasileira de Epilepsia (ABE) iniciou um projeto de educação sobre a doença em 92 escolas da rede estadual da zona sul de São Paulo. A ideia é conscientizar e ensinar todos os membros da diretoria e coordenação, professores e funcionários das escolas sobre as características da doença e suas manifestações, como a atitude que se deve tomar durante as crises e como evitar/eliminar estigmas e preconceitos dos colegas para que a autoconfiança e autoestima do paciente não sejam impactadas negativamente.
O projeto da ABE é dividido em etapas, com reuniões para cada grupo de profissionais mencionados. Na fase atual do projeto, em que se reforça a importância da escola como potencial elemento na diminuição do preconceito acerca da epilepsia, há a realização de treinamentos dos profissionais da Educação para disseminação do conhecimento. Posteriormente, haverá um professor responsável em levar o material adiante, abordando o tema em sala de aula e fazendo com que a epilepsia seja percebida como uma doença que não impossibilita o indivíduo de viver normalmente. Cerca de 100 mil alunos serão impactados pela ação, o que significa um avanço em direção à desmistificação da epilepsia e inclusão dos pacientes na sociedade.

Fonte: Jornal Dia  Dia