quinta-feira, 3 de março de 2016

Epilepsia se torna novo problema em crianças com microcefalia

Uma análise de crianças com microcefalia atendidas no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) apontou que cerca de 10% delas apresentam um quadro de epilepsia precoce, iniciado nos primeiros três meses de vida. Os achados, divulgados durante o workshop A,B,C,D,E do Vírus Zika, realizado na Fiocruz Pernambuco desde terça, fortalecem uma das hipóteses que serão estudadas em uma pesquisa a ser iniciada no fim deste mês, dentro do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc).
 Um grupo de 150 crianças com microcefalia, além de bebês sem a malformação e aqueles filhos de mulheres que tiveram exantema na gestação, serão acompanhados por dois anos para avaliar o percentual de casos de epilepsia, assim como outros comprometimentos decorrentes da infecção.
Coordenado pelo médico infectologista e professor da Universidade de Pernambuco (UPE) Demócrito Miranda Filho, o estudo Clinical cohort of newborns with microcephaly fará a análise de crianças nascidas no ano passado e, principalmente, as que estão nascendo a partir de agora. Elas passarão por exames aos três, seis, 12, 18 e 24 meses.
 Os resultados serão comparados com os apresentados em exames de 50 a 60 crianças nascidas sem a malformação, assim como outro grupo de mesma quantidade de bebês filhos de mães com sintomas de zika durante a gestação ou aqueles que apresentam calcificações, ainda que sem medição de perímetro cefálico menor que 32 centímetros.
 As 150 crianças serão incluídas mediante critérios como completude dos dados nos formulários de notificação, nascimento próximo ao início da pesquisa e comprometimento auditivo e visual. “Queremos entender o desenvolvimento delas, quantas têm risco de desenvolver outras complicações, que tipo de suporte e assistência irão necessitar”, esclareceu Demócrito.
 Dentre as hipóteses levantadas, estão as sequelas que irão surgir nesses bebês e as deficiências. Os pesquisadores aguardam parecer final do comitê de ética do Huoc para iniciar a coleta de material. A pesquisa visa esclarecer também a inquietação dos neuropediatras com a gravidade dos quadros precoces de epilepsia que têm sido relatados.
Das crianças acompanhadas pela pediatra Ana Van Der Linden no Imip, 10% apresentaram a epilepsia. Além disso, algumas também têm reflexos exacerbados, ou seja, são capazes de responder aos exames feitos durante o primeiro mês de vida com movimentos semelhantes ao ato de “sentar” ou “engatinhar”. Estudo publicado no CDC por médicos brasileiros no início deste ano relatou alteração de reflexos em 20% dos casos. “É preciso acompanhar para ver se isso vai desaparecer ou se tornará patológico”, lembrou a médica.
Segundo ela, é possível que algum mecanismo do vírus ainda esteja atuando no cérebro das crianças já nascidas. Isso porque, em alguns casos, os exames de identificação do anticorpo IgM no líquido cefalorraquidiano aponta resultado positivo. Há algo que mantenha ele positivo nessas crianças que já tiveram zika há um tempo. Existem pelo menos dois relatos de pacientes com hidrocefalia que, até os dois meses e três meses de idade, haviam sido diagnosticados como se tivessem microcefalia.
No sangue, o zika desaparece em cinco dias. Na urina leva 10 dias, mas no cérebro não se sabe. “Existem vários padrões de microcefalia. O de agora é bem mais complexo, o cérebro não consegue finalizar o processo de migração dos neurônios”, ressaltou a médica da Maternidade do Instituto Elpídio de Almeida, de Campina Grande (PB) Adriana Melo. Segundo ela, outro achado recente é a presença, em pelo menos dois casos, de aumento do líquido aminiótico nas grávidas. “Isso pode representar risco materno e aumentar a tragédia”.

Fonte: Diario de Pernambuco

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