quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Chopin sofria de alucinações induzidas por epilepsia?

Quer tenha sido estimulado por problemas físicos, ou pelo uso de drogas, o movimento romântico foi recheado de imaginações assustadoras


Wikimedia Commons

Quer tenha sido estimulado por problemas físico, ou pelo uso de drogas, o movimento romântico foi recheado de imaginações assustadoras – como aquelas pintadas por Francisco de Goya – e cenas fantásticas – como as descritas no “Kubla Khan” de Samuel Taylor Coleridge. Pelo menos um grande gênio da musica do período também pode ter sido influenciado por mais do que um mal-estar generalizado, afirmam os autores de um novo estudo publicado online no Medical Humanities

Considera-se que Frédéric Chopin, nascido na Polônia e morto em Paris, aos 39 anos, tenha sofrido de diversos problemas – tanto diagnosticados quanto não diagnosticados durante sua vida –, incluindo infecções pulmonares, febre frequente e possivelmente fibrose cística. Muitos especialistas especulam que sua “melancolia” era resultado de transtorno bipolar ou depressão. Dois pesquisadores espanhóis agora afirmam que o compositor do século 19 também pode ter sofrido uma forma de epilepsia. 

Embora ele não pareça ter tido convulsões que o debilitassem fisicamente, Chopin relatou ter alucinações visuais frequentes, mas passageiras, o que pode ter sido um indício de epilepsia do lobo temporal, concluem os co-autores do novo estudo, Manuel Vázquez Caruncho e Francisco Brañas Fernández, ambos do Complexo de Hospitais Xeral-Calde em Lugo, Espanha. 
Durante uma viagem a um monastério espanhol com sua amante George Sand, em 1838, Chopin parecia estar distraído com frequência, conforme ela recorda em suas memórias: “Para ele, o monastério estava cheio de terrores e fantasmas...Eu o encontrei, às dez da noite, pálido em frente a um piano, com olhos perturbados e seu cabelo eriçado”. Um estudante evocou uma situação parecida: “Com um grito, Chopin parou de tocar, seu cabelo arrepiado – o que eu até aquele momento tinha considerado impossível, agora via com meus próprios olhos. Mas isso durou apenas um momento.”
Em outra ocasião, Chopin, de uma hora para outra, foi embora de um concerto privado em agosto de 1848, durante o qual estava tocando sua Sonata em Si bemol menor. No mês seguinte, ele explicou o episódio em uma carta à filha de Sand: “Eu estava prestes a tocar a Marcha quando, de repente, eu vi saindo da tampa semi-aberta do meu piano aquelas criaturas malditas...eu tive que deixar o lugar por um tempo para me recompor”. 
Certamente, muitas doenças são conhecidas por induzir alucinações. No entanto, como apontam os autores do novo estudo, alucinações associadas à esquizofrenia, transtorno bipolar e outras doenças são frequentemente auditivas – mais do que visuais – em sua natureza. E, embora as percepções de aura induzidas por enxaqueca possam ser visuais, elas são muito mais comuns em pessoas com mais de 50 anos e duram de 15 a 30 minutos, além de serem seguidas por fortes dores de cabeça. Há registros de que Chopin consumiu pequenas quantidades de ópio (na forma de láudano) por orientação de seus médicos, mas, como Caruncho e Fernández observaram, as alucinações de Chopin começaram antes que ele começasse a tomar láudano. As alucinações induzidas por drogas também podem abarcar diferentes sentidos e, quando visuais, “as imagens são geralmente abstratas”, afirmam os autores
As alucinações epiléticas, por outro lado, podem ser complexas, isoladas e tipicamente tem duração de apenas minutos ou segundos. Esses breves momentos podem não ter sido percebidos ou não ter tido sua importância reconhecida pelos médicos de Chopin, especialmente porque “o entendimento em vigor sobre epilepsia é um desenvolvimento recente” e as testemunhas contemporâneas de Chopin “interpretavam esses episódios como expressão de uma alma sensível e extraordinária”, escrevem Caruncho e Fernández.
É claro que “não sabemos nada sobre seu estado neurológico físico, nem temos exames de imagem ou estudos eletrofisiológicos que poderiam nos ajudar a estabelecer um diagnostico definitivo”, escreveram os autores. Mas eles concluíram o trabalho com uma observação de esperança de que “saber que ele tinha essa condição poderia ajudar a separar a lenda romantizada da realidade.”
E, embora talvez nunca tenhamos certezas sobre o cérebro de Chopin, há a possibilidade de aprender mais pelo menos sobre sua genética e a saúde física de seu coração, que permanece preservado na Polônia.

Fonte: Scientific American Brasil




























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