quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Após 18 meses de tratamento com canabidiol, criança se prepara para voltar a escola

Os avanços na regulação do consumo e da importação do canabidiol, uma substância derivada da maconha para fins medicinais, transformaram para melhor a história de uma criança em Brasília. A jovem Anny Fisher, de 7 anos, usa o medicamento há 18 meses. Por conta disso, sofre muito menos com uma síndrome de epilepsia, e aos poucos consegue mais qualidade de vida na rotina diária.
Se antes Anny sofria com até 80 crises convulsivas por semana, hoje o uso controlado do canabidiol diminuiu esta média para apenas 4, no mesmo período. A mãe dela, Katiele Fisher, fala com felicidade sobre a evolução da filha, e faz planos para que ela estude no ensino especial da escola a partir do ano que vem.
— Ela está super bem, teve uma boa melhora dentro dos limites da síndrome. Está mais presente, mais consciente do mundo a sua volta, o que é muito legal. Ela ainda não fala, nem anda, mas se mexe para todo lado e sorri. O objetivo é garantir um pouco mais de qualidade de vida, e isso ela tem.
Outro benefício que veio do uso regular do canabidiol é a presença mais constante em terapias que colaboram no desenvolvimento de Anny. Katiele diz que precisava interromper as sessões por conta das crises convulsivas, mas agora o tratamento é semanal.
— A Anny faz fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, e outros tratamentos paliativos, assim como qualquer outra criança especial. Os estímulos ajudam a adquirir ganho motor e psicomotor. De segunda a quinta ela faz alguma atividade. Bem melhor do que antes, porque às vezes eu nem conseguia levar ela pra terapia.
Tudo isso é resultado de uma luta que rendeu até um documentário. Em “Ilegal: a vida não espera”, Katiele conta a história de quando ela e o marido traziam a substância de forma irregular dos Estados Unidos para o Brasil, pois Anny sofre com a síndrome de epilepsia desde os 45 dias de vida.
No caso próprio, o casal Fisher conseguiu autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para importar o canabidiol desde abril de 2014. Este ano, o órgão aprovou o uso controlado do medicamento, e a Receita Federal simplificou o processo para trazer a substância de fora, sem impostos.
Ainda assim, Katiele se engajou na causa de crianças que sofrem com a mesma síndrome que Anny, pois o custo do canabidiol ainda representa um obstáculo no tratamento para muitas famílias.
— Os avanços foram muitos, e a Anvisa simplificou o processo de autorização. Só que o preço do canabidiol é caro, e em dólar. Por isso, muita gente recorre a Justiça para que o Estado banque os custos, e outros até interrompem a medicação. Se a legislação brasileira permitisse uma produção nacional de forma organizada e controlada, o preço seria melhor. Isso é algo que eu vejo mudar em médio a longo prazo.
Outro caso que envolve o fornecimento do canabidiol no DF é o da jovem Sabrina, de 8 anos. Os pais dela conseguiram ajuda da Defensoria Pública para que a Justiça autorizasse o uso da substância derivada da maconha para fins medicinais.
Benefícios do medicamento
Tanto Anny quanto Sabrina sofrem com síndromes que atrasam o desenvolvimento do cérebro e causam crises convulsivas, causadas por um descontrole na ativação dos neurônios, que resulta numa reação em cadeia.
O neurocientista e professor da UnB (Universidade de Brasília), Renato Malcher, explica que o canabidiol funciona para impedir a superativação das células do cérebro, e impede que a síndrome leve a efeitos mais graves, como a morte dos neurônios e a dificuldade no aprendizado.
— O que o medicamento faz é atuar no sistema por meio de substâncias que normalmente são produzidas pelo próprio cérebro. Tomando o canabidiol de forma controlada, ela consegue frear o excesso de ativação e, com o tempo, o cérebro volta a se desenvolver e ter aspectos cognitivos que eram comprometidos pela epilepsia.
Malcher explica ainda que, embora seja derivado da maconha, o canabidiol isolado não possui o efeito de psicoatividade que a droga tem.
R7


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