quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Dia das crianças: Estímulos visuais e sonoros dos games e o possível gatilho para uma crise epilética

No Brasil, o Dia das Crianças é comemorado oficialmente em 12 de outubro. Até pela sua origem, muitos pais mantém a tradição em presentear com brinquedos. Hoje em dia, os eletrônicos dominam a preferência, sobretudo os videogames, sonho de consumo da criançada, impulsionadas e movidas pela tecnologia. Mas cabe um alerta sobre os games, em dispositivos portáteis (Tablets e Smartphone), Smarts TVs ou consoles portáteis (Vita, 3DS, Game Boy Color, PSP): há estudos que apontam que estímulos sonoros, visuais ou até táteis podem ser o gatilho para as crises epilépticas, desde que haja predisposição genética. No entanto, segundo o neurocirurgião Luiz Daniel Cetl, ainda não se saiba a causa exata, o efeito de intensa luz intermitente pode interferir no cérebro, manifestar sintomas neurológicos agudos, como é o caso da epilepsia de tipo fotossensível, hoje sabidamente de origem genética.

Um caso de epilepsia de tipo fotossensível ocorreu em 1997, no Japão, durante um episódio do desenho animado da série Pokémon, o que chamou atenção de especialistas, do governo japonês e da produtora responsável pelo desenho. A cena tinha apenas cinco segundos, numa sequência de intensas luzes vermelhas e azuis emitida pelos olhos de um personagem. Foi o suficiente para provocar convulsões em 685 crianças japonesas.

Na época, cientistas italianos descreveram o caso na revista ‘Nature Neuroscience’ e indicaram que certos desenhos animados e videogames poderiam provocar o aumento dos casos de epilepsia associada à sensibilidade a estímulos luminosos. Segundo o estudo, as ativações por certos desenhos animados e videogames estariam associadas ao mecanismo cerebral que pode levar a convulsões. Pessoas sem o problema têm um aumento de atividade de 20% na área do cérebro relacionada à visão, quando são submetidas a variações bruscas de luz. Porém, crianças com epilepsia fotossensível chegam a ter um aumento de 90%, o que significa que seu cérebro fica sobrecarregado ao processar estímulos luminosos muito intensos e contrastantes. A epilepsia fotossensível pode afetar entre 0,5% e 0,8% de todas as crianças de 4 a 14 anos.

“A manifestação da epilepsia depende muito do foco de origem e, ainda que nada esteja definitivamente comprovado, casos como os que ocorreram com crianças japonesas podem ter relação com os estímulos sonoros, interferindo no cérebro e ocasionando crises. Por isso, é preciso bom senso dos pais para educar a criança em não extrapolar o tempo de uso dos jogos e demais aparelhos tecnológicos”, diz o especialista em epilepsia pela Universidade Federal de Medicina (UNIFESP).


Crises Epilépticas
De forma geral, a epilepsia é caracterizada como uma síndrome composta por um conjunto de sintomas que são originados de um grupo de neurônios disfuncionantes, que emitem sinais atípicos ou irregulares, sendo mais prevalente nas crianças. Entre os tipos de crises, a mais conhecida é a crise epiléptica, na qual o indivíduo perde a consciência e cai no chão, apresentando contrações musculares em todo o corpo. Outras manifestações da doença são a crise de ausência, a parada comportamental e, mais raro, o estado de mal epiléptico, cada uma delas com suas características específicas, dependendo da localização do foco epiléptico, de onde se originam as crises.

Na crise de ausência, caracterizada pela curta duração, de décimos de segundo, mas que pode se repetir mais de uma vez ao dia, muitas vezes nem mesmo pessoas próximas conseguem identificá-la. Na parada comportamental, crise parcial complexa e muito mais frequente, o paciente fica parado, com o olho arregalado, como se estivesse fora de si. Por último, o estado de mal epiléptico é o tipo mais grave, pois há uma ativação contínua dos neurônios desfuncionantes que emitem sinais atípicos ou irregulares, de maneira interrupta, podendo causar lesões cerebrais.

“Quando não tratada, a epilepsia interfere psicológica e socialmente na vida do paciente. Nas crianças, os efeitos sociais são maiores, pois envolvem a aprendizagem, as dificuldades escolares, o estigma social. A recomendação é sempre procurar um especialista quando o indivíduo apresenta algum sintoma”, completa Cetl.

Tratamento da Epilepsia
O tratamento convencional para a epilepsia é por via medicamentosa, com uso das chamadas drogas antiepilépticas (DAE), eficazes em cerca de 70% dos casos (há controle das crises) e com efeitos colaterais diminutos. Quando não há controle destes sintomas, outros tratamentos possíveis são a cirurgia e a estimulação do nervo vago. No entanto, apenas um profissional, analisando o caso, poderá indicar o tratamento apropriado para o paciente.

Fonte:Correio de Notícias

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