quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Maconha medicinal: pesquisa inédita sobre ação do CBD no cérebro indica potencial de conservação de neurônios


 O canabidiol (CBD), molécula presente na maconha, pode ser capaz de contribuir com a preservação dos neurônios. É o que indica uma pesquisa inédita, realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que analisou os efeitos da substância no cérebro de camundongos.

Em busca de compreender como o CBD colabora para prevenir crises em pacientes com epilepsia em seu uso medicinal, o trabalho detectou alterações na função de quase três mil genes, principalmente, em estruturas ligadas à produção e economia de energia das células.

“Essa questão da economia energética das células pode, inclusive, apontar um efeito positivo em casos de degeneração do sistema nervoso, de morte dos neurônios. Então, esse estudo pode até apontar outras possíveis aplicações”.

A pesquisa foi idealizada pelo biólogo João Paulo Machado no Laboratório de Eletrofisiologia, Neurobiologia e Comportamento (Lenc) do Instituto de Biologia (IB) e publicada no Acta Neuropsychiatrica, periódico científico editado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

De acordo com o professor e orientador André Vieira, essa é a primeira vez que pesquisadores investigam a ação molecular diretamente no cérebro. Veja abaixo os principais pontos de como foi feito e o que foi descoberto.

Como a pesquisa foi realizada

1- Camundongos receberam doses de canabidiol por sete dias consecutivos. A quantidade escolhida era considerada compatível com a que é usada para conter crises convulsivas;

2- O pesquisador usou uma técnica pra coletar células dos cérebros dos camundongos – as células eram de uma parte específica do hipocampo, região mais afetada pelas convulsões;

3- Foi feito o sequenciamento genético do material, além da identificação e contagem dos genes. Traduzindo: o biólogo transformou tudo isso em dados que pudessem ser avaliados.

“Nenhum trabalho tinha feito isso em animais, em camundongos. Até então, havia trabalhos feitos em culturas de células. Normalmente, administram o canabidiol nesses animais, mas as conclusões são baseadas em testes comportamentais”, comentou.

“Ninguém tinha olhado a fundo o que ocorreu dentro do cérebro, do hipocampo, para entender o que levou a essa redução. Ninguém tinha observado, de fato, o que poderia estar acontecendo ali. Nosso objetivo foi entender, afinal de contas, que alterações o canabidiol gera no cérebro”.




O que os pesquisadores perceberam

Os animais que receberam canabidiol por sete dias tiveram modificações em 2,9 mil genes;

Essas modificações se concentravam em genes ligados à produção de energia – ajudando a economizar –, de proteínas e na expressão gênica das células – que define como os genes vão agir.

Segundo o pesquisador, o principal achado está ligado à forma como o CBD agiu no hipocampo dos camundongos. Essa parte do cérebro é essencial para a organização dos aprendizados e vivências diárias do cérebro. Ela é bastante impactada no que diz respeito à memórias e convulsões.

“Algumas das funções mais alteradas nesses genes estavam relacionadas à função energética da célula. A gente também viu alterações em genes envolvidos em plasticidade, que é um processo de formação de conexões entre os neurônios”, ressalta Vieira.

Em resumo, a pesquisa sugere a existência de uma relação entre o uso do CBD e uma economia de energia celular que poderia resultar na proteção do sistema nervoso.

“Talvez isso possa ter envolvimento até de como o CBD reduz o número de crises. A gente precisa explorar mais, mas a mudança talvez esteja, justamente, nessa função da economia energética. Isso pode fazer com que sistema seja mais resiliente, resistente, e gere menos crises”.

Próximos passos

Com as descobertas, que o professor definiu como um marco para a academia, o projeto continua. O objetivo agora é entender:

se essas alterações acontecem em todo o cérebro ou apenas em regiões específicas;
se o uso de outras doses mais baixas também trará esses mesmos efeitos
por que houve economia de energia nas células, como isso está acontecendo e como pode ajudar.

“Essa pesquisa explora quais alterações de expressão gênica estão acontecendo. Isso é super importante para eu tentar entender melhor como o CDB atua e exatamente o que ele faz. Entender o que a molécula faz, como ela age, é o caminho para melhorar o uso dela”.





Fonte: G1



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