sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Machado de Assis e a epilepsia

O distúrbio, que causa descargas elétricas anormais nos neurônios e pode provocar convulsões, chega a atingir 2% da população de países em desenvolvimento, segundo a Liga Brasileira de Epilepsia. No entanto, sempre foi tratado com muito preconceito. Povos antigos acreditavam que os epilépticos eram possuídos por maus espíritos e demônios. O próprio nome, epilepsia, vem do gregoepilambanein e significa “tomar, capturar, possuir”. Daí se nota o nível do tabu.
Machado nunca foi diagnosticado clinicamente com epilepsia, porém seus biógrafos são unânimes quanto ao fato. Inclusive, o escritor carioca foi até fotografado em uma de suas muitas crises pelo velho Malta, fotógrafo tradicional do Rio antigo.
Machado raramente aludia à epilepsia. Na verdade, evitava até pronunciar a tal palavra. Chegou até a excluir a referência à epilepsia em uma edição de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, ao descrever o padecimento de Virgília diante da morte do amante: “Não digo que se carpisse; não digo que se deixasse rolar pelo chão, epiléptica…”, substituindo por “convulsa”.
Também não comentava com seus amigos mais íntimos. Em uma carta a Mário de Alencar, somente falou por cima, que “o muito trabalhar destes últimos dias tem-me trazido alguns fenômenos nervosos…”. Ocultou, inclusive, da amada e dedicada esposa, Carolina, a quem devotava imensa ternura, não revelando seu problema antes do casamento.
As convulsões faziam com que o escritor, às vezes, mordesse a própria língua, o que provocava feridas. Quando alguém o questionava sobre sua dificuldade em falar – provocada pelas feridas da mordedura -, justificava: “Estas aftas! Estas aftas!”.
A epilepsia de Machado de Assis teve início na infância, quando ele sentia “umas coisas esquisitas”, que não haviam mais se repetido até seu casamento.
Há referências de que Machado de Assis consultou o Dr. Miguel Couto e que tomou brometo. Parece que a droga não foi eficaz e causou alguns efeitos indesejáveis o que, a conselho de um amigo, o teria levado a interromper o tratamento, optando pela homeopatia. O escritor morreu com uma úlcera cancerosa na boca, possivelmente derivada de seus ataques de epilepsia.
Fonte: Unifesp, Consciência

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