Ao dedicar a vida à medicina, Liselotte encontrou a plenitude e a
felicidade. Do alto de 50 anos de carreira, a médica reflete sobre a
importância do caráter humano da profissão e do aprendizado
proporcionado pela dedicação ao voluntariado.
A primeira residente
da neurologia do Grupo Hospitalar Conceição iniciou suas atividades em
1968. Hoje, com 86 anos, mesmo depois de ter sofrido dois AVCs, a médica
Liselotte segue atendendo de 12 a 14 pacientes por dia. Devido aos
problemas de saúde foi autorizada pelo seu médico a trabalhar um turno
por dia. Essa restrição a impediu de continuar realizando trabalhos
voluntários.
Mas durante seus 50 anos de profissão um importante
trabalho foi realizado. Em 2003, Liselotte nos conta que comandou por
três anos o projeto De Volta Pra Casa Epilepsia. “Eu atendia muita gente
com epilepsia e os familiares não sabiam como deveriam proceder durante
uma crise epiléptica. Percebi que se eu os instruísse como agir durante
uma crise eles ficariam mais calmos e não precisariam vir para a
emergência. Em 2003, atendia no Conceição pela manhã e à tarde em um
posto de saúde de Alvorada, onde me aposentei. Com as tardes livres
comecei a desenvolver o trabalho De Volta Pra Casa Epilepsia nos 12
postos de saúde próximos ao Conceição, das 13h às 17h. Atendia os
pacientes com epilepsia e quem estava aguardando por uma consulta
neurológica no Conceição. Dessa forma, praticamente zerei a fila de
espera do hospital. Para minha surpresa, eu soube que o meu atendimento
diminuiu em 60% a internação de criança com epilepsia na Casa da
Criança”, explica Liselotte.
O casamento com a medicina
O sonho de ser médica e ajudar o próximo fez a médica abrir mão do
casamento. “Era funcionária pública e visitadora sanitária, justamente a
educação sanitária do povo. Abri mão do meu casamento porque meu marido
não queria que eu fosse médica, mas fui atrás do meu sonho, passei no
vestibular como a primeira da turma. Meu objetivo de vida sempre foi
focar no que eu poderia fazer pelo meu semelhante por isso sempre digo
pro meu paciente que ao entrar por essa porta ele deixa de ser apenas um
paciente, ele passa a ser um membro da minha família”, destaca.
Para
a neurologista, muito mais importante do que medicar o paciente é
ouvi-lo. “Percebo que o médico novo não é levado a encarar a parte
humana e é aí que está a importância da medicina. O que as pessoas mais
precisam é de atenção, amor e respeito. Uma consulta tem que ir além da
preocupação do sintoma. Tu tem que olhar para o teu paciente, ele
precisa se sentir que pode confiar em ti. Se tem alguma coisa na minha
vida de médica na qual sinto que não avancei foi ensinar essa turma
jovem a dizer para os professores que deveria ter uma matéria de
humanística, porque é muito importante tu dar para o teu paciente calor
humano. Eles precisam aprender a tratar do paciente. Por isso acho que a
gente faz um voluntariado em cada paciente que atendemos”, afirma.
Fonte: Simers
Nenhum comentário:
Postar um comentário