quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Conheça a síndrome de Lennox-Gastaut

Caracterizada por apresentar convulsões de diversos tipos, a síndrome de Lennox-Gastaut é um motivo ainda maior de preocupação para os pais. Isso porque esse tipo raro de epilepsia da infância pode causar também um atraso do desenvolvimento neurológico e psicomotor nas crianças afetadas.
A síndrome ainda não tem cura. Porém, um método de tratamento polêmico, que diminui o número de convulsões diárias, vem mostrando ótimos resultados e melhorando a qualidade de vida dos portadores. E ele já é utilizado no Brasil.

Maconha e a Síndrome de Lennox-Gastaut

Desde o final de 2014, o uso do canabidiol (CBD), um dos 80 derivados canabinoides da Cannabis sativa (maconha), está regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para o tratamento de epilepsias graves. Segundo a entidade, que revisará essa decisão neste ano, a regra restringe a prescrição às situações em que os métodos já conhecidos não apresentam resultados satisfatórios.
O uso compassivo ocorre quando um medicamento novo, ainda sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pode ser prescrito para pacientes com doenças graves e sem alternativa terapêutica satisfatória com produtos registrados no país.
Para Mauro Luiz de Britto Ribeiro, membro do CFM, o tratamento alternativo é válido, especialmente, para portadores de epilepsias da infância e da adolescência, tais como as encontradas nas síndromes de Dravet, Doose e Lennox-Gastaut. Segundo ele, esse é o principal grupo de pacientes refratários aos métodos tradicionais.
O protocolo para uso do canabidiol prevê, ainda, que o remédio deve ser utilizado em adição às medicações que o paciente vinha utilizando anteriormente. Ou seja, ele não deve substituir completamente outras drogas, devendo ser administrado de forma associada.

Estudo comprova a eficácia do medicamento
 
Apesar de polêmico, um estudo realizado pela Academia Americana de Neurologia, em parceria com o laboratório GW Pharmaceuticals, no ano passado, indicou que a maconha reduz as crises de crianças com epilepsias graves - caso, por exemplo, dos portadores da síndrome de Lennox-Gastaut.
A pesquisa teve 213 participantes, incluindo crianças e adolescentes, com uma idade média de 11 anos. Nela, os portadores receberam diariamente, por via oral, um extrato líquido à base de CBD. Os resultados mostraram melhoria em seus quadros.
Para as 137 pessoas que completaram o estudo de 12 semanas, o número de convulsões teve uma redução média de 54%. Entre os 23 portadores de síndrome de Dravet que participaram, a queda foi de 53%.
Para os 11 com síndrome de Lennox-Gastaut, o número das chamadas apreensões átonas, que causam uma perda súbita do tônus muscular, teve diminuição de 55%. Foram registrados 12 pacientes que pararam de tomar o remédio devido aos efeitos colaterais, tais como sonolência, diarreia, cansaço e diminuição do apetite.
De acordo com o diretor do Centro de Epilepsia da Universidade de Nova Iorque e membro da Academia Americana de Neurologia, Orrin Devinsky, a eficácia da droga ainda deverá ser testada em novos estudos. No entanto, os resultados já servem de alento para as crianças e para seus pais, que têm buscado uma resposta para esses ataques debilitantes.

Fonte: Vivo Mais Saudável
 


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Anvisa aprova registro de remédios genéricos inéditos no Brasil para tratar câncer, dor e crise convulsiva

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, na segunda-feira (10/10), o registro de três medicamentos genéricos inéditos no Brasil. Isso significa que os pacientes que precisam dessas medicações poderão encontrar uma nova opção no mercado, inclusive para comparar o preço.

Os três novos remédios genéricos foram aprovados para o tratamento de câncer de próstata (cabazitaxel), dores leves e moderadas (ibuprofeno arginina) e crises convulsivas (levetiracetam).

Na prática, quando um medicamento genérico inédito é aprovado, o medicamento de marca passa a ter um concorrente no mercado o que pela lei da oferta e da procura é melhor para o consumidor.O remédio genérico já entra no mercado a um preço mais barato que o produto de marca. Essa redução representa um desconto de pelo menos 35% em relação ao preço máximo da tabela da Anvisa.

Fonte: Mídia Clara

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Evento debate uso medicinal e questões judiciais de canabinoides

Ações terapêuticas e aspectos judiciais relacionados à utilização clínica de substâncias obtidas da Cannabis sativa, conhecida popularmente como maconha, foram abordados no Fórum “Uso terapêutico dos canabinoides: aspectos moleculares, clínicos e judiciais”, organizado pelo Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 

 “Canabinoide: vilões ou heróis?”

Questões históricas e a evolução do uso da maconha pela medicina foram abordados durante a palestra “Canabinoide: vilões ou heróis?”, ministrada pelo professor Rafael Dutra da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Já usada de forma medicinal há seis mil anos, com conhecimento de seus efeitos farmacológicos e também dos efeitos colaterais de seu uso excessivo, a Cannabis já era trabalhada em sociedades como a chinesa e indiana. 
Segundo o pesquisador, foi na década de 1920 que os efeitos negativos sobressaíram e vários países baniram o uso da planta. Este panorama mudou na década de 80, quando a proibição foi repensada por algumas nações e a Cannabis foi liberada não apenas para fins medicinais, como também recreativo. A discussão ainda continua por todo o mundo, já que a maconha é a droga ilícita mais consumida. “Muitos pesquisadores chamam atenção para que o uso recreativo da Cannabis é a porta de entrada para outras drogas ilícitas”, destaca Dutra.
Em 1965, pesquisadores conseguiram sintetizar os primeiros canabinoides, compostos da planta que podem ser usados para fins medicinais por apresentarem efeitos benéficos. Esses estudos abriram espaço para um olhar científico sobre a Cannabis, com novas pesquisas ao longo dos anos, muitas apresentando possíveis indicações em tratamentos psicológicos e neurológicos.


 Canabinoides na medicina

Um dos canabinoides que vem se apresentando como alternativa terapêutica é o Canabidiol, especialmente para tratamentos contra o estresse. Isso é o que apontam pesquisas realizadas na Universidade de São Paulo (USP),  de acordo com a professora Aline Campos. A pesquisadora apresentou alguns resultados durante a palestra “Mecanismos envolvidos nos efeitos anti-estresse do Canabidiol”. 
O estresse faz parte do cotidiano das pessoas e produz um “efeito elástico”, afirma Alline: quanto mais situações de estresse um indivíduo é submetido, menor sua capacidade de resistência. Segundo ela, cerca de 450 milhões de pessoas no mundo sofrem de transtornos neuropsiquiátricos causados pelo estresse e pesquisas apontam que medicamentos como alguns antidepressivos não alcançam os efeitos desejados, ao passo que experimentos têm mostrado que o Canabidiol manifesta efeitos como redução de ansiedade. O uso da Cannabis em forma de cigarro, porém, não reproduz os mesmos efeitos de canabinoides sintéticos, considerando que a planta apresenta os mais diversos compostos, em diferentes níveis. Para isso, a pesquisadora chama a atenção à automedicação: “Cannabis como medicina não é a mesma usada para fumar. A utilização desses constituintes de forma inapropriada pode levar ao aparecimento de muito mais toxicidade do que efeito terapêutico.”
O professor da UFJF Marcos Moreira também alertou ao fumo da Cannabis durante sua palestra “Eficácia e Segurança dos Canabinoides nos Distúrbios Neurológicos”. “O uso da maconha na forma inalada está associado a um pior desempenho cognitivo, e sua suspensão reverte apenas parcialmente esse déficit. Já o uso do Canabidiol parece não ter relação com o declínio cognitivo”, esclarece Moreira. A utilização dos canabinoides surgem também como alternativa para doenças relacionadas a transtornos de movimento, epilepsia e esclerose múltipla, doença neurológica onde as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares. Moreira destaca que o tratamento para a esclerose múltipla é apenas sintomático, ou seja, não é indicado para tratar a doença, mas sim sintomas como disfunção vesical urinária e movimentos involuntários.

 Cannabis e saúde pública

Os canabinoides só foram regulamentados para fins terapêuticos no Brasil em 2015, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Porém, tais medicamentos são adquiridos apenas pela importação e existe uma série de critérios e procedimentos que devem ser seguidos, garantindo que o uso seja feito apenas por pacientes que necessitem daquele tratamento e tenham prescrição médica. De acordo com Edgar Souza Ferreira, procurador municipal de Juiz de Fora, durante a palestra “Aspectos judiciais do uso terapêutico do Canabidiol”, a maior dificuldade em relação a pesquisas e ao tratamento pelos canabinoides está relacionada à falta de registro dos medicamentos pela Anvisa, sendo acessível apenas a quem possui condições de pagar por sua importação. “Os estudos só  terão alcance a partir do momento em que o Canabidiol for acessível a todos, e no Brasil, o único jeito de um fármaco ser acessível a todos é através do Sistema Único de Saúde (SUS)”, explica Ferreira.
Para quem não pode pagar pela importação, há leis que determinam o custeio desses gastos pelo SUS, já que, de acordo com a Constituição Federal, “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. Conseguir esse pedido através da justiça, porém, apresenta uma série de dificuldades devido ao impasse entre o uso recreativo e medicinal. Em Juiz de Fora, por exemplo, houve apenas uma ação judicial para importação do Canabidiol, por um paciente com epilepsia, que ainda assim foi indeferida pelo juiz, que afirmou não existir evidências clínicas e terapêuticas suficientes para a concessão do medicamento. “O único jeito que o paciente tem de conseguir o tratamento com Canabidiol pelo SUS é através da justiça, mas diante da diversidade do pensamento e da falta de uniformização das decisões, a pessoa tem que ‘dar sorte’ de passar com um juiz que entenda e conceda o pedido”, diz o procurador.






Fonte: UFJF Notícias

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Disfunção respiratória pode estar associada a morte súbita em pacientes com epilepsia

As estatísticas apontam que, por dia, seis pessoas são acometidas por morte súbita associada à epilepsia (Sudep) nos Estados Unidos. Embora os números sejam expressivos, o fenômeno ainda é desconhecido para o público em geral e para os profissionais de saúde.
Não há na literatura médica clareza sobre os mecanismos que levam à morte súbita de pacientes com quadro de epilepsia; são justamente esses mecanismos que pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP buscaram compreender no estudo recém-publicado no jourrnal of Physiology, um dos mais importantes periódicos na área das Ciências Biomédicas. Os resultados sugerem que disfunções respiratórias podem estar associadas aos casos de Sudep.
“Sabemos que os distúrbios no sistema cardiorrespiratório são considerados fatores de elevado risco para óbito”, afirma um dos responsáveis pelo estudo o pesquisador do ICB, Thiago S. Moreira.
Evidências mostram que durante as crises de epilepsia o paciente pode sofrer arritmias e depressão respiratória. Para verificar a possível relação entre a Sudep e o sistema respiratório, os pesquisadores utilizaram animais geneticamente selecionados, a cepa denominada Wistar Audiogenic Rat (WAR) desenvolvida pelo grupo do professor Norberto Garcia-Cairasco, do Departamento de Fisiologia da FMRP, que quando submetidos a estímulos sonoros, respondem com crises tônicos-clônicas e límbicas, semelhantes às crises de epilepsia.
“Durante essas crises, foi percebida uma grande redução na atividade respiratória e na captação de oxigênio”, explica Leonardo Totola, doutorando do Laboratório de Controle Cardiorrespiratório do ICB, orientando de Moreira. Ana Carolina Takakura, professora do ICB e colaboradora do projeto, explica que a disfunção respiratória acontece em “decorrência de alterações em regiões específicas do sistema nervoso central, responsáveis por controlar a respiração”.
Os resultados obtidos no estudo incorporam novas informações sobre os mecanismos de controle respiratório em modelo genético de epilepsia. Durante uma crise, pode haver comprometimento de áreas do sistema nervoso que induzem disfunções respiratórias, que por sua vez, podem contribuir para o quadro de Sudesp.
O estudo obteve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Programa de Excelência Acadêmica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
 
Fonte: Jornal da USP