quinta-feira, 7 de abril de 2022

Ketlen Wiggers revela epilepsia e diz que sofreu bullying por causa da doença

A maior artilheira da história do futebol feminino do Santos Futebol Clube, Ketlen Wiggers, revelou nesta semana, por meio de um vídeo publicado nas redes sociais, que tem epilepsia. Ela disse que foi alvo de piadas e sofreu muito após o diagnóstico, quando médicos apontavam que a atleta não poderia mais jogar futebol. Aos 30 anos e com a doença controlada, ela quer incentivar outras pessoas a falarem sobre a epilepsia e a viverem bem, sem preconceitos.

Ketlen tomou coragem para falar que tem epilepsia após ver o vídeo onde o ator Will Smith dá um tapa na cara de Chris Rock durante a cerimônia do Oscar 2022, após o comediante fazer uma piada sobre a cabeça raspada de Jada Pinkett Smith, mulher do ator. “Eu me senti no lugar dela, por todas as piadas que eu sofri em público. Eu não me defendia porque eu tinha vergonha de falar da epilepsia”.

As crises epiléticas são sinais e sintomas que ocorrem devido a uma descarga excessiva e anormal do cérebro. Entre as causas, estão: genética, AVC, infecções, lesões no cérebro, febre e, também, em alguns casos, não há diagnóstico fechado. A crise pode se espalhar e se tornar generalizada, levando à perda da consciência e convulsão.

A jogadora publicou um vídeo, em suas redes sociais, revelando sua condição, e comoveu muitos seguidores (veja a postagem abaixo). Ketlen descobriu a doença quando tinha 19 anos. A camisa 7 santista sofre com um tipo de epilepsia denominado de “crise de ausência”.

A atleta conta que, na época, ela conversava com as pessoas e, de repente, tinha um "apagão" por alguns segundos. Quando voltava, não lembrava o que estava falando. No início, ela tinha uma crise por semana. Depois, aumentou para duas por dia. O quadro piorou e Ketlen chegou a ter 40 episódios em um mesmo dia.

Eu estava na minha casa, em Santa Catarina, e minha mãe falou para eu ir à padaria. E nesse dia, eu estava muito mal, como se o remédio não estivesse mais fazendo efeito. Quando cheguei na padaria, eu não conseguia conversar com as pessoas. Na minha cidade, todo mundo me conhece. Eles estavam tentando conversar comigo e eu não conseguia, simplesmente a cada um minuto eu tinha uma epilepsia, eu saía fora do ar”, lembra.

A atleta conta que foi alvo de brincadeiras e piadas por ter epilepsia. Um dos episódios, segundo ela, ocorreu durante a época da faculdade, durante a apresentação de um trabalho. “Eu simplesmente esqueci o que estava falando. As pessoas começaram a rir de mim, até porque eu não sabia explicar o que estava acontecendo. Elas riam de mim, e eu fiquei quieta, saí da sala e não sabia o que fazer”, explica.

A atleta procurou por médicos em Santa Catarina, que diagnosticaram a doença e disseram que Ketlen não poderia mais jogar futebol. No auge da carreira, na seleção brasileira de futebol feminino e jogando no Santos, ela não aceitava o posicionamento dos médicos.

“Ele falou que simplesmente um epilético não poderia jogar futebol, que era impossível. Eu fiquei mal, lógico. Chorei muito. Minha mãe me deu muita força para que a gente fosse atrás de outros médicos, fomos atrás de outros para tentar ter uma mensagem positiva. Outro também falou que era impossível. E eu fui para São Paulo”, disse.

Na capital paulista, Ketlen foi atendida por um especialista em epilepsia. Ele receitou remédios para controlar os episódios da atleta e quis entender melhor a condição dela. A jogadora contou que nunca tinha tido crises dentro de campo.

“Nem ele entende a razão. Ele falou que, se eu nunca tive dentro de campo, que eu poderia continuar fazendo o que eu quisesse. Então, era a mensagem que eu precisava”, conta. Segundo ela, o médico suspeita que Ketlen fica muito concentrada nos gramados, o que evita que ela tenha crises dentro de campo.

Além de medicamentos, Ketlen realiza exames anualmente e tem acompanhamento psicológico desde o ano passado. Segundo a atleta, as sessões de terapia, onde ela pode desabafar e conversar sobre a epilepsia, lhe ajudam a enfrentar e conviver com essa condição.

Melhor coisa que eu fiz foi fazer terapia, porque eu tinha dificuldade de falar, de conversar com as pessoas. Eu fiquei muito no meu canto, no meu mundo, eu realmente me exclui de tudo. A terapeuta me ajudou muito a me abrir mais”.

Segundo Ketlen, sempre foi difícil lidar com as brincadeiras e piadas. Ela diz que isso resultou em medos e traumas. “Por isso que hoje eu tenho dificuldade de falar em público, tenho dificuldade de dar entrevista, porque eu tinha medo de ter epilepsia, de ouvir piadas novamente”.

Agora, Ketlen quer falar mais sobre a epilepsia. A atleta diz que deseja incentivar outras pessoas, que vivem na mesma condição que ela, a terem coragem de falar sobre o assunto, sem vergonha. E, além disso, que as pessoas parem com brincadeiras a respeito da doença.

“Eu, pessoalmente, sempre me senti muito mal com todas essas piadas que eu passei. Até hoje eu faço trabalho psicológico para tentar melhorar isso. E eu sei que é difícil. Foi muito difícil para mim no começo, e meu intuito foi acabar com essas piadas, para as pessoas entenderem que, na verdade, tem que estudar mais o tema, entender mais e entender que a gente é normal”, desabafa.

Ela diz que sua escolha foi não desistir do seu sonho de ser jogadora de futebol, apesar da negativa de vários médicos quando souberam que ela tinha epilepsia. “Eu não teria chegado aqui, eu não teria realizado todos esses sonhos que eu realizei, ser a maior artilheira do clube hoje, estar no muro, tantas conquistas que eu tive com o clube. Eu acho que a melhor mensagem é essa. Muitas pessoas vão dizer que não dá, que não dá para fazer o que a gente faz, mas se a gente desistir no primeiro não, a gente nunca vai chegar em lugar nenhum. Não desistam”, finaliza.


Fonte: G1

 

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