quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

E se fosse seu filho: Convulsão resultante da falta de informação

Com 10 anos, meu neto Gustavo tem uma agenda lotada: escola, professora particular, duas fonoaudiólogas, psicóloga, psicomotricista, terapeuta ocupacional, equoterapia. Tudo para ajudá-lo a se desenvolver e alcançar todo o seu potencial – Gustavo tem autismo com deficiência intelectual e epilepsia. Então, no feriado, era dia de folga e diversão! Que tal uma peça de teatro infantil?, pensamos, eu e a mãe dele. 
A fila para comprar os ingressos para o espetáculo, no teatro do shopping, estava enorme. E as portas do teatro ainda estavam fechadas para quem já os tinha comprado. Assim, formou-se aquela aglomeração! As crianças, como é natural, corriam, gritavam, numa algazarra feliz. Mas para Gustavo, o barulho e a agitação eram excessivos. Ele perguntava quando iríamos entrar, numa ansiedade crescente que já me deixava preocupada com a possibilidade de convulsão.
A mãe de Gustavo, minha filha, foi até a bilheteria para pedir prioridade. Mas a atendente respondeu que todo o público era formado por crianças e, portanto, todos tinham direito à prioridade. 
Depois de uma longa espera, conseguimos entrar. A peça começou, com um barulho ensurdecedor e um pisca-pisca de luzes estroboscópicas. Não havia nenhum aviso do uso das luzes, apesar de ser fato conhecido que estímulos luminosos podem desencadear convulsões. Como resultado dessa sequência de erros, Gustavo convulsionou.
Foi complicado dar apoio e proteger o corpo do meu neto durante a convulsão: para piorar, o shopping não tem um local para atendimento médico e precisamos fazer isso sentadas nas cadeiras de um restaurante vizinho. Depois, com a ajuda de um segurança do shopping, levamos Gustavo para o carro. Ele precisava dormir, porque fica muito cansado depois de uma convulsão.
A quem devemos recorrer para que as instituições conheçam a prioridade para pessoas com autismo? 
A quem devemos recorrer para que os shoppings tenham uma área de descanso para momentos tensos como este? 
A quem devemos recorrer para que as pessoas simplesmente se coloquem no lugar do outro?
A falta de informação de todos os envolvidos – shopping, teatro e direção da peça – criou uma situação difícil para nós e perigosa para uma criança, que tem o mesmo direito de estar ali que as outras, só que sob condições especiais de acessibilidade. E se fossem seus filhos? 

Fonte: O Globo

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