Uma análise de crianças com microcefalia atendidas no Instituto de
Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) apontou que cerca
de 10% delas apresentam um quadro de epilepsia precoce, iniciado nos
primeiros três meses de vida. Os achados, divulgados durante o workshop
A,B,C,D,E do Vírus Zika, realizado na Fiocruz Pernambuco desde terça,
fortalecem uma das hipóteses que serão estudadas em uma pesquisa a ser
iniciada no fim deste mês, dentro do Hospital Universitário Oswaldo Cruz
(Huoc).
Um grupo de 150 crianças com microcefalia, além de bebês sem a
malformação e aqueles filhos de mulheres que tiveram exantema na
gestação, serão acompanhados por dois anos para avaliar o percentual de
casos de epilepsia, assim como outros comprometimentos decorrentes da
infecção.
Coordenado pelo médico infectologista e professor da Universidade de
Pernambuco (UPE) Demócrito Miranda Filho, o estudo Clinical cohort of
newborns with microcephaly fará a análise de crianças nascidas no ano
passado e, principalmente, as que estão nascendo a partir de agora.
Elas passarão por exames aos três, seis, 12, 18 e 24 meses.
Os resultados serão comparados com os apresentados em exames de 50 a 60
crianças nascidas sem a malformação, assim como outro grupo de mesma
quantidade de bebês filhos de mães com sintomas de zika durante a
gestação ou aqueles que apresentam calcificações, ainda que sem medição
de perímetro cefálico menor que 32 centímetros.
As 150 crianças serão incluídas mediante critérios como completude dos
dados nos formulários de notificação, nascimento próximo ao início da
pesquisa e comprometimento auditivo e visual. “Queremos entender o
desenvolvimento delas, quantas têm risco de desenvolver outras
complicações, que tipo de suporte e assistência irão necessitar”,
esclareceu Demócrito.
Dentre as hipóteses levantadas, estão as sequelas que irão surgir
nesses bebês e as deficiências. Os pesquisadores aguardam parecer final
do comitê de ética do Huoc para iniciar a coleta de material. A
pesquisa visa esclarecer também a inquietação dos neuropediatras com a
gravidade dos quadros precoces de epilepsia que têm sido relatados.
Das crianças acompanhadas pela pediatra Ana Van Der Linden no Imip, 10%
apresentaram a epilepsia. Além disso, algumas também têm reflexos
exacerbados, ou seja, são capazes de responder aos exames feitos
durante o primeiro mês de vida com movimentos semelhantes ao ato de
“sentar” ou “engatinhar”. Estudo publicado no CDC por médicos
brasileiros no início deste ano relatou alteração de reflexos em 20%
dos casos. “É preciso acompanhar para ver se isso vai desaparecer ou se
tornará patológico”, lembrou a médica.
Segundo ela, é possível que algum mecanismo do vírus ainda esteja
atuando no cérebro das crianças já nascidas. Isso porque, em alguns
casos, os exames de identificação do anticorpo IgM no líquido
cefalorraquidiano aponta resultado positivo. Há algo que mantenha ele
positivo nessas crianças que já tiveram zika há um tempo. Existem pelo
menos dois relatos de pacientes com hidrocefalia que, até os dois meses
e três meses de idade, haviam sido diagnosticados como se tivessem
microcefalia.
No sangue, o zika desaparece em cinco dias. Na urina leva 10 dias, mas
no cérebro não se sabe. “Existem vários padrões de microcefalia. O de
agora é bem mais complexo, o cérebro não consegue finalizar o processo
de migração dos neurônios”, ressaltou a médica da Maternidade do
Instituto Elpídio de Almeida, de Campina Grande (PB) Adriana Melo.
Segundo ela, outro achado recente é a presença, em pelo menos dois
casos, de aumento do líquido aminiótico nas grávidas. “Isso pode
representar risco materno e aumentar a tragédia”.
Fonte: Diario de Pernambuco
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