quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

França dá primeiro passo para autorizar maconha terapêutica

A França deu um primeiro passo nesta quinta-feira (13) para a autorização da maconha de uso terapêutico, depois que um comitê de especialistas nomeado pelo governo considerou que seria "pertinente" autorizar seu uso em alguns casos.
O comitê de especialistas reunido pela ANSM (sigla em francês) - a agência encarregada da segurança dos medicamentos - avaliou que seria "pertinente autorizar o uso do cannabis terapêutico em alguns casos", como dores persistentes, algumas formas de epilepsia, ou durante tratamentos contra o câncer.
O caminho continua sendo longo, porém, até que o uso medicinal da maconha seja autorizado na França. São necessários vários meses de trabalho para definir as modalidades de uso, e isso apenas caso a agência aceite as conclusões do comitê. Depois, é necessária uma decisão política para modificar a lei.
"Não é certo" que a maconha terapêutica esteja à disposição dos pacientes antes de 2020, considerou o professor Nicolas Authier, especialista em Farmacologia.
Se for autorizado, o uso terapêutico da maconha poderá ser realizado somente como complemento de outros tratamentos.
Cerca de 30 países do mundo, incluindo Canadá, Suíça, Noruega, Israel e Turquia, assim como vários estados dos EUA, autorizam essa modalidade.

Fonte: Estado de Minas

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Nova Zelândia legaliza uso medicinal da maconha

A Nova Zelândia aprovou na terça-feira (11/12) uma lei que autoriza o uso da maconha para fins medicinais. De acordo com a nova regra, o acesso será limitado para pacientes com dores crônicas e que apresentem receitas médicas.

A emenda à Lei de Abuso de Drogas, elimina a definição do cannabidiol como droga controlada e a converte em um medicamento fornecido sob prescrição.
Desta forma, as empresas de maconha medicinal poderão produzir seus produtos tanto para o mercado local como para exportação.
"As regulações, normas para as licenças e os padrões de qualidade serão determinados com o conselho de especialistas durante o ano da entrada em vigor da lei", explicou em comunicado o ministro da Saúde, David Clark.
Com a aprovação, a Nova Zelândia se tornou o segundo local na Oceania a legalizar o uso medicinal da maconha. Em 2016, o Estado de Victoria, na Austrália, já havia liberado a utilização.

Usos medicinais da maconha

As substâncias mais comumente prescritas são:
  • Canabidiol (CBD)
  • Naxibimols (extrato vegetal com THC e CBD, também conhecida como Sativex)
  • Dronabinol (THC sintético, cujo nome do medicamento atende por Marinol) e nabilona (molécula sintética semelhante à do THC).
"O uso geralmente acontece através da vaporização da planta, por via oral (na forma de pílulas), oro-mucosa (absorção pela mucosa oral) ou retal, para uma absorção mais rápida", conta Ivan Mario Braun. Para o psiquiatra, o uso do cigarro de maconha, por outro lado, é altamente contestável em função da presença conjunta de altas concentrações de THC, com potencial de abuso.
O canabidiol tem sido estudado como opção terapêutica para um amplo espectro de condições médicas (como asma e dores crônicas, por exemplo), porém a maior parte desses estudos ainda está na fase pré-clínica em animais de laboratório.
"Até o momento, as doenças que apresentam maior nível de evidências de efeitos terapêuticos do CBD são a epilepsia, esquizofrenia e Doença de Parkinson, a primeira tendo o tratamento autorizado com a substância. As duas outras já possuem estudos controlados e duplo-cegos em pacientes, porém ainda faltam estudos multicêntricos, com número elevado de pacientes", pondera Antonio Waldo Zuardi.
Atualmente, a nabilona e o dronabinol têm sido utilizados para reduzir náuseas provocadas pela quimioterapia no tratamento do câncer. O último também é associado ao aumento de apetite em pacientes soropositivos.
No Brasil, o primeiro e único remédio à base de canabinoides registrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o Mevatyl, um spray bucal com os princípios ativos tetraidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD), ambos isolados a partir da espécie vegetal Cannabis sativa. Em outros países, o nome comercial do medicamento é Sativex.

Fonte: Minha Vida

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

E se fosse seu filho: Convulsão resultante da falta de informação

Com 10 anos, meu neto Gustavo tem uma agenda lotada: escola, professora particular, duas fonoaudiólogas, psicóloga, psicomotricista, terapeuta ocupacional, equoterapia. Tudo para ajudá-lo a se desenvolver e alcançar todo o seu potencial – Gustavo tem autismo com deficiência intelectual e epilepsia. Então, no feriado, era dia de folga e diversão! Que tal uma peça de teatro infantil?, pensamos, eu e a mãe dele. 
A fila para comprar os ingressos para o espetáculo, no teatro do shopping, estava enorme. E as portas do teatro ainda estavam fechadas para quem já os tinha comprado. Assim, formou-se aquela aglomeração! As crianças, como é natural, corriam, gritavam, numa algazarra feliz. Mas para Gustavo, o barulho e a agitação eram excessivos. Ele perguntava quando iríamos entrar, numa ansiedade crescente que já me deixava preocupada com a possibilidade de convulsão.
A mãe de Gustavo, minha filha, foi até a bilheteria para pedir prioridade. Mas a atendente respondeu que todo o público era formado por crianças e, portanto, todos tinham direito à prioridade. 
Depois de uma longa espera, conseguimos entrar. A peça começou, com um barulho ensurdecedor e um pisca-pisca de luzes estroboscópicas. Não havia nenhum aviso do uso das luzes, apesar de ser fato conhecido que estímulos luminosos podem desencadear convulsões. Como resultado dessa sequência de erros, Gustavo convulsionou.
Foi complicado dar apoio e proteger o corpo do meu neto durante a convulsão: para piorar, o shopping não tem um local para atendimento médico e precisamos fazer isso sentadas nas cadeiras de um restaurante vizinho. Depois, com a ajuda de um segurança do shopping, levamos Gustavo para o carro. Ele precisava dormir, porque fica muito cansado depois de uma convulsão.
A quem devemos recorrer para que as instituições conheçam a prioridade para pessoas com autismo? 
A quem devemos recorrer para que os shoppings tenham uma área de descanso para momentos tensos como este? 
A quem devemos recorrer para que as pessoas simplesmente se coloquem no lugar do outro?
A falta de informação de todos os envolvidos – shopping, teatro e direção da peça – criou uma situação difícil para nós e perigosa para uma criança, que tem o mesmo direito de estar ali que as outras, só que sob condições especiais de acessibilidade. E se fossem seus filhos? 

Fonte: O Globo

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Pesquisa propõe novas estratégias para tratamento de epilepsia

Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 50 milhões de pessoas em todo mundo são diagnosticadas com epilepsia. A patologia é, portanto, considerada pela OMS como uma das doenças neurológicas mais comuns no planeta.
Com o intuito de encontrar  novas perspectivas para o controle da epilepsia, pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) desenvolveram um estudo que apresentou novas estratégias para otratamento dos portadores de epilepsia de lobo temporal.
A pesquisa intitulada “Efeito do bloqueio dos cotransportadores NKCC1 e KCC2 nas atividades epileptiformes não sinápticos” foi desenvolvida no Laboratório de Neurociência, no Campus Dom Bosco, como parte da tese de doutorado de Samyra Giarola Cecílio. Ela explica que durante o estudo, foi investigada a atuação de um diurético que inibe crises epiléticos.
“Na nossa pesquisa investigamos a ação de um diurético conhecido (furosemida) no nosso modelo de epilepsia, que é o modelo de zero cálcio e alto potássio. Esse diurético é conhecido por inibir vários modelos de crises, tanto in vitro como in vivo. Nos nossos experimentos, a furosemida também bloqueou as crises. Mas o que descobrimos é que ela não bloqueia as crises por inibir duas proteínas na membrana que regulam o transporte de íons, como é divulgado atualmente na literatura. Em nossos experimentos observamos que o bloqueio é devido à atuação do diurético em duas outras proteínas que regulam o pH dos neurônios”, detalha Samyra.
Ao todo quatro pesquisadores trabalharam no estudo: Samyra Giarola Cecílio, aluna de doutorado da Universidade, Luiz Eduardo Canton Santos (aluno de pós-doutorado) e os dois professores/orientadores: Antônio-Carlos Guimarães de Almeida e Antônio Marcio Rodrigues.
Segundo o orientador Antônio-Carlos Guimarães, a pesquisa aponta para a desenvolvimento de medicamentos sem efeitos colaterais. “O ponto central do projeto é a identificação do mecanismo de atuação anti-epileptogênica da furosemida. Embora essa droga tenha uma ação muito eficiente, os efeitos colaterais, basicamente os efeitos diuréticos, a inviabilizam. Mas a identificação do alvo antiepilético permite desenvolver drogas de ação sobre esse mesmo alvo e sem os efeitos colaterais. Essa é a grande perspectiva que o estudo oferece”, defende o pesquisador.

Trabalho Reconhecido
No final do mês passado, Samyra Giarola Cecílio foi premiada pela pesquisa no XXVI Congresso de Engenharia Biomédica, organizado pela Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB). A aluna recebeu o prêmioCientista Cândido Pinto de Melo, o mais importante concedido pela sociedade, por seu trabalho que aborda o controle da epilepsia.
Para a cientista, o prêmio foi uma forma de reconhecimento da importância de sua pesquisa para a área da saúde. “Receber este prêmio foi de alegria para mim, uma vez que possibilitou uma maior divulgação e conhecimento da nossa pesquisa. A divulgação desses achados oferece novas perspectivas para a área clínica e saúde da população, uma vez que aponta novos alvos para o controle da epilepsia“, comemora Samyra.

Fonte: Minas Faz Ciência


quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Hospital Metropolitano oferece serviço pioneiro de neuropsicologia

Os pacientes de epilepsia e doença de Parkinson acompanhados pela equipe multiprofissional do Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires contam com mais um serviço de avaliação pré-operatória que inclui consultas neuropsicológicas. A iniciativa consiste em avaliar, por meio de testes neuropsicológicos, a capacidade cognitiva do paciente  auxiliando os  trabalhos da equipe da neurocirurgia da unidade de saúde. O Hospital é a primeira instituição pública de saúde do Estado a utilizar esse tipo de procedimento.

O gerente multiprofissional do complexo hospitalar, Gilberto Teodózio, ressaltou a importância do procedimento.  “Estamos oferecendo o serviço, inicialmente, para pacientes com doença de Parkinson e epilepsia, mas isso não impede que prestemos atendimento a pacientes com tumor e com outras deficiências cognitivas no futuro. Para o usuário, essa assistência faz a diferença porque muitos necessitam desta avaliação antes de se submeter a um procedimento cirúrgico para se entender se alguma das funções cognitivas pode ser alterada ou não durante e após o procedimento cirúrgico”, destacou.
De acordo com a coordenadora da psicologia do Hospital Metropolitano, Amanda Rios, a necessidade da avaliação da neuropsicologia se faz para a eficácia da assistência ao paciente. “Em relação a pacientes com doenças degenerativas e/ou funcionais, como Parkinson e epilepsia, a avaliação é necessária para que o neurocirurgião tenha mais clareza no desempenho cognitivo do paciente, ou seja, saiba o que ainda se encontra com funções preservadas. Na avaliação do paciente, são verificadas suspeitas nas alterações cognitivas que podem ser decorrentes de alguma desordem neurológica”, esclareceu .
As consultas da neuropsicologia  são conduzidas com uma entrevista ao paciente, que responde testes para avaliar o funcionamento de funções cognitivas como memória, atenção, linguagem, percepção e funções executivas. A partir dos resultados é elaborada uma intervenção junto a esse paciente  tanto  na fase dos exames de ambulatório  quanto no pós-operatório.  Atualmente, a unidade de saúde conta com os trabalhos de quatro neuropsicólogos.
Neuropsicologia- Trata-se da interface entre a Psicologia e a Neurologia, estudando relações entre o cérebro e o comportamento humano, e buscando compreender como lesões, alterações genéticas, malformações ou qualquer agravo que afete o sistema nervoso pode causar déficits em diversas áreas do comportamento e cognição.
Perfil - O Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, localizado em Santa Rita, é a primeira unidade de saúde pública especializada em neurologia e cardiologia da Paraíba. Tem a capacidade de 226 leitos, sendo 60 de UTI, 11 salas de cirurgia e um moderno centro de diagnóstico por imagem. Os pacientes atendidos na instituição são regulados via Secretarias Municipais, em sintonia com o sistema de regulação do Estado, como também pelo Samu.

Fonte: PBAgora

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Cientistas acreditam ter descoberto tratamento para a epilepsia

Cientistas nos Estados Unidos decifraram pela primeira vez a função de estruturas no cérebro à volta dos neurónios e acreditam ter descoberto um tratamento potencial para alguns tipos de epilepsia.
Segundo um estudo divulgado (09 de novembro) sexta-feira, as chamadas redes perineuronais foram descobertas pela primeira vez em 1893 pelo neurobiólogo italiano Camillo Golgi, mas a sua função não era bem conhecida até a equipe do instituto Carilion, da universidade estadual da Virginia, ter agora concluído que regulam os impulsos elétricos no cérebro.
Quando estas redes são destruídas, podem acontecer crises epiléticas, como descobriram quando investigaram cérebros de ratos com tumores cerebrais muito agressivos chamados glioblastomas.
Trata-se do único cancro que não consegue espalhar-se porque está limitado pelo crânio. Por isso, segrega em grandes quantidades um neurotransmissor chamado glutamato que mata as células à volta para permitir ao tumor crescer.
Os cientistas da Virginia Tech também verificaram que o tumor ataca as redes, dissolvendo-as, o que torna difícil regular os impulsos elétricos no cérebro, que pode então sofrer crises epiléticas.
O investigador especializado em epilepsia H. Steven White afirmou que as conclusões do estudo da equipe liderada pelo biólogo Harald Sontheimer se podem aplicar a outras formas de epilepsia adquirida.
"Este estudo sugere uma possível forma de modificar o desenvolvimento e a progressão da epilepsia, o que diminuiria o transtorno para os pacientes", indicou.
Mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de epilepsia, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Cerca de um terço dos doentes não responde aos tratamentos existentes.
Fonte: JN Direto

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Palestra: Conviver com a Epilepsia e ter qualidade de vida - É possível?

EVENTO GRATUITO ABERTO AO PÚBLICO!


Ciclo de palestras sobre Epilepsia, promovido pela Associação Brasileira de Epilepsia - ABE.



"CONVIVER COM A EPILEPSIA E TER QUALIDADE DE VIDA - É POSSÍVEL?"


Palestra dirigida a profissionais, estudantes, pessoas com epilepsia, familiares e interessados pelo tema. Certificado de participação para os presentes e transmissão ao vivo em nossa página do facebook.



Palestrante: William Turner - Bibliotecário, Prefeitura de São Paulo


Data: 27/11/2018 ( terça feira )

Horário: Das 18h30 ás 21:00 hs

Local: Rua Botucatu, 862 - Vila Clementino

Anfiteatro José Cassiano de Figueiredo ( UNIFESP )

São Paulo - ( próximo á estação Santa Cruz do metrô )





quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Superação:The Good Doctor em Cuiabá: estudante de medicina autista sonha em ser neurocirurgião

Lançada em 2017 e sucesso no Brasil em 2018, a série The Good Doctor mostra a história de Shaun Murphy, um residente de medicina portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA), que sonha em se tornar um grande cirurgião e tem que lidar tanto com as suas dificuldades da síndrome quanto com o preconceito das pessoas em relação à sua escolha profissional.
Em Cuiabá, Enã Rezende Bispo do Nascimento, 26 anos, vive essa ficção na vida real. Diagnosticado com TEA aos 18 anos, apesar de ter vivido com a síndrome a vida toda, Enã escolheu aos 10 anos que seria neurocirurgião. Estudou, batalhou e em janeiro se formará em medicina pela Universidade de Cuiabá (Unic).
O grau de autismo de Enã é leve, mas ele possui alguns dos sintomas característicos do espectro, como o hiperfoco, a tendência a ficar mexendo as mãos, a hipersensibilidade sonora, tátil e às vezes fotossensibilidade, em que ambientes com muita luz o incomodam. Boates, por exemplo, em que há muitas pessoas, luzes e barulho, são locais difíceis para ele.

A descoberta

Na infância, Enã foi diagnosticado de forma errônea com psicose infantil. Quando pequeno, ele contou ter sofrido muito preconceito por parte das outras crianças e até dos pais delas. Além do autismo, à época não diagnosticado, ele também tinha desvaria, um distúrbio na fala que dificultava a pronúncia de algumas palavras.
“Na infância eu sofri muito. As crianças viam que eu era diferente, que eu era uma criança introspectiva, mas que tentava conversar, se aproximar. E eu tinha dislalia, não conseguia falar o ‘r’ vibrado, fazer o trator com a língua. Aí as crianças me achavam esquisito, falavam que eu era louco, retardado, deficiente e, às vezes, até os pais não me ajudavam, muito pelo contrário, falavam para os filhos: ‘fica longe daquele louco’”, lembrou.




Mas engana-se quem pensa que o bullying atrapalhou Enã. Segundo ele, as dificuldades somente o impulsionaram a se superar.
“Eu vi que eu tinha que me superar, que eu tinha que provar para todo mundo que eles estavam errados de pensar isso de mim. Eu percebi que só dependia de mim, que eu tinha que correr atrás, que tinha que tentar ser alguém. Foi uma superação, foi muito difícil. Até na época do cursinho muita gente tentou me desmotivar a fazer medicina”, contou.
O estudante disse que o lugar em que foi melhor acolhido foi a igreja – ele frequenta a primeira igreja Batista de Cuiabá. O pai era pastor, os avós também eram muito evangélicos, e, por isso, ele frequentou a igreja desde pequeno.
“É uma sensação tão boa, é um amor. Eu tenho um pouco de sensibilidade para essas coisas e consigo sentir a aceitação. Tanto que o barulho me incomoda, mas, estranhamente, os louvores da igreja não me incomodam. As orações, Deus na minha vida, tem sido fundamental para mim”, relatou.





O diagnóstico correto, de Transtorno do Espectro Autista, veio somente aos 18 anos, e foi recebido por Enã com uma mistura de alegria – por finalmente entender várias características de si mesmo – e tristeza – por perceber que tinha uma condição neurológica sem cura.

Medicina

A escolha da medicina veio cedo. Aos 10 anos Enã já sabia o que queria ser quando crescer. Quando ele tinha sete anos, seu pai morreu de traumatismo craniano, ao sofrer um acidente automobilístico, o que despertou sua vocação.
“Não sei bem se foi isso, mas foi uma das coisas que me direcionou. Porque eu adquiri muita curiosidade sobre como que ficou a cabeça dele”, afirmou. Enã queria entender o que houve e poder ajudar situações como a do pai. Ele acredita que o acontecimento ficou em sua cabeça e, depois de três anos, despertou a ideia de fazer medicina e se tornar um neurocirurgião.




Nascido em Umuarama (PR), foi depois da morte do pai que Enã veio para Mato Grosso, para ficar próximo da família da mãe, que é de Rondonópolis. Veio para Cuiabá cursar o 3º ano do ensino médio, fez cursinho em Goiânia (GO) e retornou para a Capital mato-grossense quando passou em medicina.
Começar o curso não foi fácil. A princípio, o estudante teve muitas dificuldades. Segundo ele, as pessoas não o entendiam, nem tinham paciência, mas com o tempo e a convivência, se acostumaram com as diferenças e o aceitaram.
Para colaborar com a aceitação, Enã precisou mudar sua socialização, até mesmo pensando na relação médico e paciente. Antes de entrar para a medicina, quando ainda estava no cursinho, em 2009, o estudante comprou livros de linguagem corporal para conseguir melhorar sua forma de lidar com os próximos e passou a estudar.
“Esses livros davam estratégias de socialização. Uma coisa que eu aprendi a fazer foi conversar olhando nos olhos das pessoas, que passa mais tranquilidade e confiança. Os livros dão uma série de dicas para você fazer o triângulo social, olhar nos olhos, olhar na boca, porque se você ficar o tempo todo só olhando nos olhos também não é legal”, disse.
Segundo Enã, atualmente, a maioria dos pacientes nem mesmo percebem que ele tem Transtorno do Espectro Autista. No começo ele tinha um pouco mais de dificuldade em falar com eles, mas, como começou a interagir com pacientes no 2º ano da faculdade, eles achavam que era nervosismo pela falta de experiência.




Faltando poucos meses para a colação de grau, Enã já está se preparando para as provas de residência. Ele pretende tentar a do Sistema Único de Saúde (SUS) de São Paulo, a do AMRIGS, que atende a hospitais do Rio Grande do Sul, e, em Cuiabá, do Hospital Geral Universitário (HGU) e do Santa Rosa, os dois hospitais da Capital mato-grossense que tem neurocirurgia.
Depois dos dois anos da residência, ele ainda enfrentará mais cinco anos de especialização em neurocirurgia.

The Good Doctor

Enã começou a assistir a série e acabou de terminar a primeira temporada. Desde que The Good Doctor ficou conhecida no Brasil, ele disse que muitas pessoas têm lhe comparado ao doutor Murphy. Aliás, até mesmo ele diz se reconhecer em muitos detalhes da série.
“Algumas coisas eu me vejo. O hiper foco, o fato de a gente não entender a linguagem conotativa, levar tudo mais para o literal, inclusive isso foi e é uma dificuldade minha, em relação a certas piadas”, contou.
Porém, diferente do Shaun, que não gosta de ser tocado, Enã gosta muito de abraçar. Ele afirmou que com algumas pessoas se importa em ser tocado e com outras não, mas que não sabe explicar como funciona a seletividade.


Enã, a mãe e o padastro, em seu ensaio de formatura


Na série, o personagem também tem a Síndrome de Savant, em que ele grava tudo que lê e lembra em detalhes. Enã disse acreditar que não tem, mas que, se tiver, é um grau bem leve.
“O que eu consigo lembrar são coisas da minha infância remota, de quando eu tinha um ano de idade. Eu lembro, mas quando eu conto para as pessoas, elas não acreditam. Aí conto para minha mãe e familiares e eles confirmam”, disse.
Além dessas características, o motivo que levou Enã e o personagem Shaun Murphy a se interessarem pela medicina também é parecido: ambos perderam pessoas importantes ainda na infância (Enã o pai e Shaun o irmão) e isso despertou a vontade de ajudar os outros a viver.
Uma das maiores vantagens em Shaun Murphy como cirurgião, sempre citada na série, é uma que Enã acredita ser também a sua maior vantagem como médico.
“O hiperfoco, na minha opinião, é minha maior vantagem na minha profissão. Vou sempre estar 100% focado na cirurgia, se tiver fatores emocionais, se acontecer algo antes, isso não vai me atrapalhar”, afirmou.





Assim como a série tem trazido a mensagem de que pessoas com Transtorno do Espectro Autista podem ser independentes e seguir qualquer carreira com excelência, Enã acredita ser um exemplo de que tudo é possível.
“Sinceramente, não existe nada que impeça a gente [autistas] de fazer o que quer fazer. Não só para medicina, mas para tudo que você desejar, tudo que você tiver vontade, você pode. Assim como o Bill Gates”, disse Enã, usando como exemplo o co-fundador da Microsoft, citado no livro “Thinking in pictures”, de Temple Grandin, como tendo características autistas.




Fonte: O Livre

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Brasil ganha curso online inédito voltado para Medicina Canabinóide

Diversas pesquisas e estudos nacionais e internacionais apontam que a cannabis medicinal possui grande eficácia em diversos tratamentos para câncer, autismo, Alzheimer, dor crônica, ansiedade, entre outros. Porém faltam informações precisas a respeito do assunto. Para contribuir na divulgação de dados, a partir deste mês de outubro, serão disponibilizados os primeiros cursos voltados para profissionais da saúde e pacientes.
Inéditos no Brasil, os cursos serão online e ministrados por meio do CEC - Centro de Excelência Canabinóide, em parceria com a empresa americana Medical Marijuana 411, que desenvolveu programas de e-learning de última geração para a certificação exigida por estados americanos e a educação continuada para profissionais médicos. Os cursos online são certificados pelos estados de Washington e Alaska, nos Estados Unidos, e com mais de 800 citações de pesquisas revisadas por especialistas. Os cursos são considerados os mais completos do mundo e, inicialmente, serão disponibilizados nos idiomas português e inglês e, em breve, em espanhol.
"Estamos investindo na área da educação a fim de ajudar na capacitação dos profissionais de saúde e pacientes. Queremos contribuir para a melhor qualidade de vida dos pacientes que precisam de tratamento à base da cannabis medicinal e de seus familiares", explica Pedro Pierro, médico neurocirurgião e diretor médico do CEC.
O curso para médicos - Certificação Profissional Médica - está estruturado em 11 módulos, feito para médicos que já prescrevem ou pretendem prescrever, profissionais da área da saúde em busca de conhecimento, treinamentos e certificações, além de graduandos em Medicina, residentes ou recém-formados. Os módulos consistem nos seguintes temas: panorama jurídico e posicionamento da Anvisa, história do uso da planta, sistema endocanabinóide, dosagens, contraindicações, testes de laboratório e prática clínica em diversos problemas de saúde, entre outros tópicos.
Também é possível encontrar no portfólio de cursos do CEC, o chamado Cannabis Medicinal Básico, desenvolvido para pessoas com problemas de saúde que já se tratam ou buscam tratá-las por meio de tratamento focado na prática da medicina canabinóide, e também para pessoas que tenham interesse em adquirir conhecimento sobre essa especialidade médica. Mais informações estão disponíveis no portal http://cecmedical.com.br

Localizado na cidade de São Paulo, o CEC - Centro de Excelência Canabinóide - além de atuar na área educacional, também trabalha no acesso, com uma clínica especializada na medicina canabinóide e uma equipe de médicos especialistas e certificados. "O acesso a uma prescrição é muito complicado para os pacientes que necessitam desse tipo de tratamento, pois os médicos não estão preparados para fazê-las. Estamos atendendo desde o início deste ano e temos pacientes com Parkinson, epilepsia, insônia, problemas gastrointestinais, entre outras enfermidades", ressalta o médico Pedro Pierro.


Fonte:Terra

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Técnica para previsão de convulsões em pacientes com epilepsia vence prêmio Beatriz Neves

Maria Fernanda Ziegler  |  Agência FAPESP – Gustavo Henrique Tomanik, recém-formado no curso de graduação em Física Médica na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, foi um dos vencedores do prêmio Beatriz Neves 2018, pelo estudo de técnica matemática-computacional para a previsão de convulsões em pacientes com epilepsia.
Concedido pela Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC), o prêmio tem como objetivo incentivar a participação de alunos de graduação em atividades de iniciação científica, em caráter nacional e no âmbito de Matemática Aplicada e Computacional. Há também uma categoria exclusiva para estudantes de pós-graduação.
Pacientes com epilepsia sofrem de alterações temporárias da atividade das células nervosas no cérebro, o que pode causar episódios repentinos de convulsão. Durante a iniciação científica, com bolsa da FAPESP, Tomanik utilizou conceitos da teoria de Redes Complexas para identificar alterações na atividade elétrica cerebral e assim predizer se uma convulsão estaria prestes a acontecer. Ele também utilizou dados obtidos pela técnica da eletroencefalografia (EEG), que consiste no registro gráfico das correntes elétricas desenvolvidas no encéfalo, por meio de eletrodos aplicados no couro cabeludo.
“Por meio da análise de dados de EEG de 23 pacientes e de um algoritmo de análise de dados fisiológicos, desenvolvido no meu doutorado, Tomanik mapeou esses dados em redes complexas e, por meio destas, detectou períodos que precedem e antecedem uma convulsão e também com convulsão epilética em plena atividade”, disse Adriana Campanharo, professora assistente doutora do departamento de Bioestatística da Unesp de Botucatu e orientadora de Tomanik.
“Os resultados obtidos podem contribuir significativamente na melhora da qualidade de vida de pacientes com epilepsia que se veem muitas vezes isolados por conta do impacto físico, psicológico e social que a doença ainda apresenta”, disse Tomanik.
Parte da iniciação científica foi desenvolvida nos Estados Unidos por meio de uma Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior da FAPESP.
“No laboratório do professor Luís Amaral, na Northwestern University, Tomanik pôde desenvolver parte de seu estudo no âmbito de um dos maiores grupos de pesquisa do mundo na área de redes”, disse Campanharo.
Tomanik iniciou em 2018 mestrado em Biometria pelo Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, também orientado por Campanharo. O projeto agora tem um desafio duplo: fornecer uma estimativa do tempo máximo que antecede uma convulsão e investigar estratégias de localização da zona epileptogênica, região do cérebro onde surgem as convulsões.
“Como aproximadamente 30% dos pacientes com epilepsia não respondem ao tratamento com drogas antiepilépticas, a detecção e remoção de tal zona proporcionaria a cura da doença em tais pacientes”, disse a orientadora.
O novo estudo conta com a colaboração do professor Luiz Betting, do Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Unesp, com o fornecimento de novos dados de EEG e contribuição nas análises. 
Fonte: Agência FAPESP

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Canábis terapêutica autorizada a partir de 1 de novembro no Reino Unido

A canábis terapêutica vai ser autorizada no Reino Unido, mediante prescrição, a partir de 1 de novembro, anunciou esta quinta-feira o ministro do Interior, Sajid Javid.
O governante sublinhou, contudo, que a medida não abre caminho para uma legalização da canábis para uso recreativo.
"A minha intenção sempre foi garantir que os doentes possam ter acesso ao tratamento médico mais apropriado, mas indiquei sempre claramente não ter qualquer intenção de legalizar o uso recreativo da canábis", explicou.
Vários casos de pessoas doentes que recorreram ilegalmente à ajuda de produtos derivados da canábis, incluindo os de duas crianças com epilepsia que tomavam óleo de canábis, Alfie Dingley e Billy Caldwell, foram alvo de muita atenção mediática no Reino Unido, alimentando o debate sobre a autorização da canábis terapêutica.
O ministro do Interior britânico pediu a 19 de junho a dois grupos de especialistas independentes que estudassem a questão.
Uma primeira análise, realizada por Sally Davies, a principal conselheira médica do Governo, concluiu estar provado que a canábis médica tinha benefícios terapêuticos.
O Conselho Consultivo sobre o Abuso de Droga considerou, por seu lado, que os médicos deveriam poder prescrever canábis terapêutica desde que os produtos cumprissem as normas de segurança.
O interesse pela canábis, ou cânhamo indiano, utilizada como planta medicinal, foi relançado nos anos 1990 pela descoberta de um composto análogo produzido pelo organismo, o canabinóide endógeno, presente tanto no cérebro dos seres humanos como dos animais.
Desde então, dezenas de estudos confirmaram o interesse da canábis terapêutica para tratar, por exemplo, espasmos musculares na esclerose múltipla e na epilepsia, dores crónicas em algumas patologias neurológicas, ou ainda para impedir náuseas e vómitos em doentes com cancro.
Vários outros países europeus já legalizaram a canábis terapêutica, como a Alemanha, a Áustria, a Finlândia e a Itália.
Fonte: Jornal de Notícias

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

SUS atrasa droga para epilepsia e prejudica ao menos 312 mil

Falta de entendimento entre secretarias e ministério dificulta acesso a remédio indicado para conter crises convulsivas.
Incorporado no Sistema Único de Saúde (SUS) no ano passado para controlar convulsões de bebês com síndrome congênita de zika e para tratar pacientes com epilepsia, o medicamento levetiracetam ainda não é encontrado na rede pública. O atraso na oferta é atribuído a uma falta de entendimento entre governo federal e secretarias de saúde sobre quem pagará a conta da aquisição do remédio.
"Enquanto uma decisão não vem, o que vemos é uma legião de pacientes esperando, que poderia ser beneficiada com tratamento ou protegida de efeitos colaterais de drogas atualmente utilizadas. É muito frustrante", afirma a professora de Neurologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Clarissa Yasuda.
A estimativa é de que o medicamento poderia ser usado por pelo menos 312 mil pacientes brasileiros. O levetiracetam já é indicado há anos na Europa e vendido em farmácias no Brasil.
Maria Luiza Manreza, coordenadora do Departamento Científico de Epilepsia da Academia Brasileira de Neurologia, afirma que uma das principais indicações do remédio é para mulheres com o problema em idade fértil ou que estão grávidas. "Estudos mostram que remédios usados para controlar as crises têm efeitos negativos na formação do feto. E um deles, o valproato, por exemplo, tem efeitos ainda mais nocivos. Com isso, não temos ferramentas para tratar essas pacientes", resume Maria Luiza.

Risco menor

No caso de crianças, o uso do levetiracetam reduz o risco de efeitos colaterais na capacidade cognitiva. Enquanto a droga não é adotada no SUS, bebês com síndrome congênita recebem nos postos públicos o carbamazepina, que é indicada para o tratamento de crises convulsivas e de doenças neurológicas e psiquiátricas, e o ácido valpróico.
O levetiracetam teve a primeira indicação aprovada na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) em agosto do ano passado. A decisão foi publicada no início de dezembro. Pela regra vigente, o governo tem 180 dias para ofertar o medicamento na rede pública.
À época, informação divulgada pela assessoria da Conitec apontava que o medicamento é "especialmente indicado para pacientes que precisam de pelo menos dois anticonvulsionantes e também eficaz em pacientes com microcefalia ou epilepsia mioclônica juvenil, uma forma que ocorre na adolescência e tem relação com a história familiar dos indivíduos".
No relatório de recomendação da Conitec, apresentado em julho do ano passado, o impacto orçamentário da incorporação do medicamento em cinco anos foi calculado em R$ 329,034 milhões, sendo cerca de R$ 29,45 milhões no primeiro ano de investimento.
À época, o preço do remédio considerado no relatório era de R$ 0,79 por comprimido, na apresentação de 250 mg, mas a dose inicial prevista na bula é de 1.000 mg por dia, podendo chegar a 3.000 mg ao dia.
Questionado, o Ministério da Saúde informou, em nota, que a definição sobre o pagamento do medicamento será tema de uma reunião entre representantes da pasta, secretários estaduais e municipais de saúde, marcada para o fim do mês.
Maria Alice Mello Susemilhl, presidente da Associação Brasileira de Epilepsia, no entanto, afirma que o tema já havia sido discutido em outra reunião, sem que uma solução fosse encontrada. "A ansiedade de pacientes é enorme. Imagine saber que o medicamento já foi liberado e não há prazo para ele, de fato, chegar a você."

Efeito colateral

Clarissa afirma que os medicamentos usados atualmente no controle de convulsões disponíveis no SUS têm entre os principais efeitos colaterais a interação com outras drogas. "Ele acaba alterando a eficiência de medicamentos usados, por exemplo, para diabete, para asma", observa a professora da Unicamp.
Além disso, o levetiracetam é dado em duas doses, o que permite ao paciente seguir de forma adequada o tratamento. "O que vou dizer para um paciente do SUS? Para ele comprar o remédio do próprio bolso?"
No entanto, foi o que fez a pedagoga Ismenia Lopes Oliveira, de 32 anos. "Gasto cerca de R$ 250 por mês. Felizmente trabalho, tenho como pagar. Mas e quem não pode?", indaga a pedagoga.

Trocas

As primeiras convulsões começaram quando ela cursava a faculdade, em 2007. No início eram três episódios por dia. "Consegui me formar com muito esforço. O desempenho caiu, mas não desisti."
Depois disso, ela trocou algumas vezes de medicação e fez uma cirurgia. Há dois anos, foi indicado pelo médico um medicamento, que fez com que ela perdesse muito peso. "Tenho 1,75 metro. Estava com 47 quilos. Todos os conhecidos me perguntavam o que eu tinha", conta Ismenia.
Foi aí que ela fez a troca do medicamento. Na ocasião, a frequência e a intensidade das crises já haviam diminuído de forma significativa. "Com o remédio, recuperei peso e crises se reduziram ainda mais. Hoje tenho, às vezes, crises de ausência. Algo que só eu percebo."

Outros medicamentos em falta

Como o Estado mostrou há duas semanas, há pelo menos quatro meses o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) vem apresentando queixas com relação à falta de medicamentos. Por isso, lançou publicamente um levantamento realizado com 4 mil municípios para mostrar os principais gargalos.
Entre os exemplos citados por secretários estão remédios para hepatite C (daclastavir e sofosbuvir), para pacientes transplantados e aqueles em tratamento para Alzheimer. Na lista também estão incluídos até produtos mais baratos, como anticoncepcionais.

Fonte: Terra

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Palestra: Morte súbita nas epilepsias ( Sudep )

EVENTO GRATUITO ABERTO AO PÚBLICO!


Ciclo de palestras sobre Epilepsia, promovida pela Associação Brasileira de Epilepsia - ABE.



"MORTE SÚBITA NAS EPILEPSIAS ( SUDEP )"


Palestra dirigia a profissionais, estudantes, pessoas com epilepsia, familiares e interessados no tema. Certificado de participação  para os presentes e transmissão ao vivo em nossa página do facebook.


Palestrante: Dr. Fulvio Scorza - Professor Adjunto de Disciplina de Neurociência da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.


Data: 09/10/2018 - ( terça-feira )
Horáriio: Das 18:30 hs ás 21:00 hs
Local: Rua Botucatu, 862 - Vila Clementino
Anfiteatro José Cassiano de Figueiredo ( UNIFESP )
São Paulo - ( próximo á estação Santa Cruz do metrô )










quinta-feira, 27 de setembro de 2018

INSS corta auxílio-doença de uma criança acamada de 12 anos


Há cerca de uma semana, uma carta do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mudou a vida de uma família, em São Gonçalo. A correspondência caiu como uma “Bomba” para dona de casa Roseli da Conceição, de 57 anos, que cuida da neta Beatriz Saraiva Pegoraro, a Bia, de 12, que vive presa a uma cama por conta de doenças físicas e mentais. A notícia que a carta trouxe para Roseli informou a suspensão do auxílio-doença de Bia, e, como se não bastasse, o órgão ainda exige a devolução dos valores já pagos, o que quase chega ao valor de R$ 50 mil, até o dia 10 de novembro deste ano.



“O último pagamento da Bia foi em agosto e, a partir desse mês, não vamos mais receber nada. Minha filha chegou a ir lá, levando todos os laudos para mostrar que minha neta precisa do benefício, mas eles só fizeram agendamento para 20 de fevereiro de 2019”, lamentou.



Beatriz Saraiva sofre de uma doença rara chamada Síndrome de Dandy Walker, que consiste em uma malformação cerebral congênita, o que causa fraqueza e movimentos descoordenados.



Além disso, Bia tem Epilepsia Mioclônica Juvenil, considerada de difícil controle, e o que causa constantes convulsões. Ela também tem Hidrocefalia, desvio de coluna e problemas causados pelas próprias medicações usadas no tratamento. Tudo isso comprovado em laudos médicos. Mas agora sem o benefício do INSS, a avó da Bia não sabe como vai continuar para manter o tratamento da menina.



“Minha neta tem convulsões que duram três minutos e acontecem a cada 10. E tem todos os dias. Nós não sabemos o que vamos fazer para comprar os remédios dela porque são muito caros ,e todo mundo na minha casa faz ‘bicos’. Eu não posso e nem tenho como trabalhar também para cuidar dela. Meu sentimento é de injustiça”, disse.



Órgão alega irregularidades mas diz que cabe recurso administrativo



O INSS informou que o benefício foi suspenso porque foram identificadas irregularidades em vários períodos durante sua concessão, inclusive o recebimento de auxílio-desemprego de um dos integrantes da família, configurando assim, segundo o órgão, que a renda familiar per capita superou o limite exigido por decreto. O órgão esclareceu, no entanto, que cabe recurso administrativo.



“Para tanto, basta a família da segurada realizar agendamento, por meio do telefone 135 ou pelo site meu.inss.gov.br, solicitando entrada em recurso”, disse o INSS em nota.



Para Roseli, a alegação é revoltante.



“A mãe da Bia trabalhou durante três anos mas foi mandada embora e deu entrada no auxílio-desemprego, um direito dela. Além de não dar para manter a minha neta com um salário mínimo, ela só vai receber cinco parcelas. Só quem tem uma criança especial sabe o que estou passando”, justificou a avó de Bia.


Fonte: O São Gonçalo

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Margarete Brito, a mãe que luta pelo acesso à maconha medicinal no Brasil

Quando descobriu que a filha Sofia tinha a Síndrome CDKL5Margarete Brito, 46, fez o que toda mãe faria: buscou os melhores tratamentos à disposição e, claro, medicou a menina conforme as recomendações médicas. Mas nada funcionou tão bem para o processo terapêutico da menina quanto o óleo extraído da cannabis sativa, uma planta com mais de 100 substâncias químicas que é totalmente descartada como remédio quando é chamada pelo nome popular: maconha. Depois de descobrir o poder da maconha, e é assim que ela chama, no tratamento da filha, Margarete buscou autorização judicial e foi a primeira mãe a conseguir plantar sem correr riscos de ser presa. Hoje, a advogada transformou a maconha em sua luta e tem um só sonho: legalizar a planta no Brasil.
Antes de Sofia chegar, Margarete só sabia do uso recreativo da maconha como cigarro, porque alguns amigos fumavam. A realidade em que estava inserida, então, ajudou a advogada a enxergar a planta como uma solução, nunca como tabu: "Quando eu descobri que maconha poderia ser o remédio, ao contrário de muitas mães, eu achei melhor. Pensei que seria melhor do que dar a ela os outros remédios todos que dava na época".
Geralmente quem vai preso é o preto, pobre, da favela. Eu sabia que não iria ser presa por isso, mas mesmo assim fazia questão de conseguir criar precedentes.
Hoje com nove anos, Sofia faz o tratamento com remédios tradicionais e com o oléo do canabidiol. Margarete explica que no caso da filha, a maconha auxilia devido ao alto poder terapêutico, age diretamente no cognitivo e ajuda também no controle parcial das convulsões: "É um conjunto terapêutico, e a cannabis faz parte". Ela rechaça a ideia de que a maconha só pode ser exaltada quando opera um "milagre" na vida de alguma criança.
"É uma substância com potencial terapêutico que tem que ser respeitada, mas ela é uma substância como várias outras: vai funcionar incrivelmente para umas, parcialmente para outras e para outras nem vai funcionar. Só por isso a gente deve lutar: não precisa ser milagroso para continuar lutando por isso. A pessoa que quer fazer essa opção terapêutica, ela tem esse direito independentemente de ser milagroso", afirma.
E a luta de Margarete começou quando decidiu entrar na Justiça para poder plantar em sua própria casa. O alto custo de importação do óleo e a burocracia foram os motores para a decisão, mas o principal efeito desse pedido era o precedente que seria criado naquele momento para outras famílias, com perfis diferentes da sua.
"É aquela velha história: geralmente quem vai preso é o preto, pobre, da favela. Não é o meu perfil, eu sabia que não iria ser presa por isso, mas mesmo assim fazia questão de conseguir criar precedentes. Foi muito legal porque conseguimos, com isso, ter hoje mais de 20 autorizações judiciais para cultivo no Brasil inteiro. A gente consegue mostrar que não está no caminho errado. Os juízes estão reconhecendo que é possível plantar, é possível fazer o próprio remédio", conta a advogada.
Não precisa ser milagroso para continuar lutando por isso.


Foi a partir desse momento que Margarete decidiu transformar a luta em sua profissão, abandonou o exercício da advocacia e hoje se dedica integralmente ao ativismo pela maconha, mesmo não conseguindo se remunerar. "Ver a transformação é o meu pagamento", afirma.
"Quando você ajuda uma pessoa e tem o retorno, que ela conseguiu o remédio, diminuiu as crises [convulsivas], voltou a comer ou ir à escola, não tem dinheiro que pague. A advocacia nunca me deu prazer e eu acho que todo mundo gosta de trabalhar com coisas que te dão prazer também. E isso me dá muito prazer", explica.
Depois de criar os precedentes com a autorização judicial para plantio, agora Margarete age no processo de educar famílias sobre o uso da maconha. No comando da Apepi (Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal), ela ajuda famílias a conseguir encontrar uma luz e um tratamento possível à base de cannabis, independentemente da renda.
"A grande parte das mães que me procurava era mais pobre, com pouco acesso à informação, que não tem condições financeiras de conseguir consulta médica com um médico que prescreva ou de conseguir cumprir a burocracia para conseguir um remédio importado. Eu comecei a me envolver com essas famílias entendendo e me colocando no lugar delas", afirma a mãe de Sofia.
A gente viveu anos de proibição, a maconha é vista como a droga do demônio e associada à marginalidade.
Diferentemente de Margarete e sua família, algumas têm maior resistência ao uso da maconha, seja recreativo ou terapêutico. Mas ela entende que o preconceito com a planta é resultado de anos de demonização. "A gente viveu anos de proibição, a maconha é vista como a droga do demônio e associada à marginalidade", conta a advogada. E completa: "Você vê que tem mães que, por ver funcionando com outras crianças, quer experimentar mas tem um conflito. Ela não fala maconha, fala canabidiol".
Mesmo com a dificuldade de fazer a maconha ser entendida como uma planta que pode ter diferentes tipos de uso e afastá-la do estereótipo construído nos últimos anos, Margarete não desiste: "O preconceito é uma falta de informação. Quanto mais você informa, mais as pessoas vão se despindo desse preconceito. Esse é o nosso trabalho: informar. É mais de formiguinha mesmo, informar no dia a dia".
Quanto mais você informa, mais as pessoas vão se despindo desse preconceito.



A Apepi também ensina famílias a plantar a cannabis, faz a ponte entre médicos e pacientes e faz o trabalho de "lobby do bem", articulando com áreas de todas as esferas do poder para, quem sabe, conseguir a regulamentação da maconha no Brasil. É a associação também que, numa parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), quer incorporar um medicamento à base de cannabis, produzido no Brasil, no Sistema Único de Saúde. Se os objetivos estão pertos de serem conquistados? Não dá para dizer, principalmente porque o lobby contrário é muito forte.
"A gente encontra alguns políticos conservadores, de bancada evangélica. Tem alguns que agem diretamente com a intenção de que as coisas não avancem por causa do preconceito. E é muito pesado isso, porque tem pessoas com poder em Brasília que acham que é papo furado, mesmo com muita evidência e artigos científicos publicados. Eles não acreditam e tem um lobby fortíssimo para que isso não avance", explica a ativista.
Eu não penso em nenhum momento em parar de plantar ou parar de ensinar as pessoas a plantarem.

Mas nada disso é suficiente para Margarete se arrepender ou desistir da luta: "A gente só tende a avançar, independentemente do que aconteça na nossa política. Eu não penso em nenhum momento, independentemente do que aconteça no Brasil, politicamente falando, em parar de plantar ou parar de ensinar as pessoas a plantarem. É um caminho que não tem volta, de fato".
E para Margarete, o fim do caminho não é o dia em que a legalização acontecer. Ela acredita que o trabalho só vai mudar, mas sempre irá existir. "Com a legalização, o preconceito não acaba. Não vou ter menos trabalho se legalizar, mas vou ter outros trabalhos. A gente luta para que a legalização seja democrática, mas a gente não sabe como vai ser".
Independentemente de como seja, uma coisa não vai mudar a forma como Margarete enxerga seu trabalho, e deixa transbordar nos olhos que brilham ao contar sua história: "É apaixonante você ver que, se gosta de ajudar as pessoas, consegue fazer muita coisa!". E quanta coisa.
Fonte: HUFFPOST