Um grupo de pesquisadores da
Universidade Estadual do Piauí está em vias de iniciar os trabalhos de
pesquisa dos primeiros projetos aprovados pelo governo estadual para o
canabidiol, substância obtida do óleo da Cannabis sativa. O Piauí é o primeiro estado do país a autorizar a viabilização do projeto.
O grupo de pesquisadores responsáveis já estuda a substância há algum
tempo, mas com a recente autorização do governador Wellington Dias para
a produção do óleo no estado, foram criados projetos a serem executados
pela Uespi e também pela UFPI (Universidade Federal do Piauí). As
universidades fabricarão o medicamento em parceria com a Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), Secretaria de Estado da
Saúde (Sesapi) e o Centro Integrado de Reabilitação (Ceir).
Para um dos pesquisadores envolvidos no projeto, professor Fabrício
Amaral, essa autorização pioneira dá uma contribuição para o estado nas
áreas social, econômica e técnico-científica. “Estamos falando de grupos
de pacientes que têm poucos recursos terapêuticos, de uma demanda
reprimida de pais desesperados que veem um filho com 30, 40 crises
convulsivas por dia”, explica.
De acordo com Amaral, a iniciativa abre portas para que o estado,
inclusive, fabrique o produto para outras federações. “À medida em que
você promove o desenvolvimento de novos fármacos, está criando um parque
tecnológico que vai facilitar não só a comercialização do canabidiol
como o desenvolvimento de futuros produtos”, acrescenta.
Histórico
O diálogo para que essa autorização pudesse ser realizada teve início com o I Simpósio Sobre o Uso Medicinal dos Canabinóides, ocorrido em março de 2017, e do qual a Uespi foi parceira na realização. “O simpósio esclareceu à sociedade porque ainda existe toda aquela cultura quando se fala da maconha. Aqui não se trata de projetos da liberação do uso da maconha para uso recreativo, mas do uso de uma substância isolada da planta, a partir da qual é feito o tratamento”, relembra uma das pesquisadoras, professora Rosemarie Brandim Marques.
A partir do evento, foram realizadas reuniões entre as instituições
que trabalham com a temática, como a Uespi, UFPI e Ceir, e cada uma
ficou responsável por montar projetos distintos. “Isso foi definido
desde a programação que nós fizemos, que ocorreu lá no simpósio, e está
bem definido em quê cada instituição vai contribuir para esse projeto. A
Uespi vai fazer o teste de segurança genética e genotóxica, tanto antes
de começar a distribuição com testes em animais para saber se há
alteração a nível de DNA e também com o acompanhamento genético de
pacientes do Ceir”, explica o professor Antônio Luiz Maia.
O Ceir ficará responsável pelo atendimento à população que necessita
fazer uso dos medicamentos e também por fazer uma triagem e escolha de
quais pacientes vão receber esse canabidiol produzido aqui, além do
acompanhamento clínico. Já, a UFPI montou um projeto para cultivar a
cannabis e extrair o óleo, o que levará um tempo para se concretizar,
segundo os pesquisadores, visto que há que se fazer a seleção de mudas,
do tipo, do rendimento. Logo, o início do projeto da Uespi se dará com o
canabidiol importado e espera-se que, de seis meses a um ano, já exista
a produção do óleo no estado.
Os projetos das três instituições estão no momento aguardando a
liberação das verbas, que totalizam um montante de R$ 1 milhão. Além
disso, também aguardam as autorizações da Anvisa e da Polícia Federal.
“Estamos passando por todas essas etapas de forma bem sucedida, e agora
nossa próxima etapa é, a partir do recurso liberado, cada instituição
fazer sua parte, seus projetos. Dependemos do orçamento do governo”,
esclarece Rosemarie. Ainda em 2018, o estado contará com uma câmara
setorial de biotecnologia para apoiar a produção.
Epilepsia
Os três projetos terão um foco primordial no tratamento da epilepsia refratária, doença para a qual os medicamentos atuais têm seus efeitos diminuídos com o passar do tempo. A Anvisa já liberou tratamento também para a espasticidade, efeito que a esclerose múltipla traz ao paciente, onde ele perde a motilidade. De acordo com os pesquisadores da Uespi, existem outras doenças que estão sendo pesquisadas, mas a que está no momento sendo bastante utilizada é a epilepsia refratária.
O canabidiol é uma substância que não causa dependência, de acordo
com Fabrício Amaral. O professor explica que na epilepsia a substância
gera uma diminuição das atividades dos neurônios, e essa diminuição
contribui para uma diminuição da excitação cerebral, comum em
epiléticos. “O mecanismo em si ainda está sendo estudado, mas já é muito
mais efetivo que os medicamentos que já existem no mercado. Além disso,
ele é excelente analgésico, gera diminuição de dor em algumas
situações, como na esclerose, e isso melhora a qualidade de vida do
paciente”, diz.
Os pesquisadores também relataram que é importante o envolvimento da
Uespi na pesquisa. “A Uespi hoje disponibiliza tanto recursos humanos,
de propriedade intelectual, como de estrutura física para estar
realizando esses experimentos dentro da própria instituição. Nossos
professores são capacitados dentro da parte da pesquisa genotóxica”,
comenta Maia, e acrescenta Rosemarie: “Hoje em dia você não consegue
mais colocar no mercado um medicamento sem esses testes, a própria
Anvisa exige isso”.
Autoria: Jonatas Freitas
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