quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Maconha medicinal avança no Brasil: Sempre senti que plantar o remédio da minha filha era legítimo

Os últimos meses de 2016 foram históricos para o avanço da chamada maconha medicinal no Brasil.
Entre novembro e dezembro, três famílias conseguiram o salvo conduto para que plantassem a maconha com objetivo de produzir extratos que pudessem ser usados por seus filhos.
Margarete Santos de Brito, mãe e militante que cultiva cannabis para o tratamento da filha, Sofia, de 7 anos, conseguiu a proteção judicial para garantir o cultivo de plantas de maconha em sua própria casa, o que a legislação brasileira ainda não aceita. Marcos Lins, o marido, também não corre nenhum risco de ser acionado judicialmente pelas plantas.
O mesmo aconteceu, no mesmo mês de novembro, com Alexandre Meirelles e Maria de Fátima, pais de Gabriel Meirelles, 14 anos, que sofre com epilepsia e tem tomado doses de CBD, extrato da maconha, nos últimos cinco meses.
O HuffPost Brasil conversou com Margarete e Alexandre para ter uma melhor dimensão do que está começando a acontecer em nosso território nacional.
O salvo conduto, o tradicional habeas corpus preventivo, não permite que as polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro levem Margarete e seu marido Marcos presos nem apreendam o cultivo, mantido para cuidar de Sofia, portadora de CDKL5, doença rara que tem como um de seus sintomas crises convulsivas.
O efeito é semelhante com Alexandre e sua família, que já haviam, em processo anterior, garantido que o estado do Rio de Janeiro passasse a ceder os remédios a Gabriel. A decisão foi favorável a Alexandre, mas o poder público nunca cumpriu o que devia.
"Este ano foi realmente muito bom [para a maconha]. Tem o projeto da Farmacannabis ( campanha colaborativa no Catarse para a compra de equipamentos e material que serão utilizados para verificar as dosagens dos canabinoides), na UFRJ. Temos a Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz] envolvida com o tema também. E conseguir falar de maconha dentro de um braço do Ministério da Saúde é um passo muito grande. Levei minhas flores [da cannabis] para padronizar dentro da UFRJ, com a supervisão da professora Virgínia Carvalho. E tudo isso é um engajamento da sociedade civil, que está se juntando à Academia", comemorou Margarete, em entrevista ao HuffPost.
A advogada Margarete sabe bem o que está dizendo. Ela é a presidente da Associação de Apoio á Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi) e está na linha de frente pelo direito ao acesso aos extratos preparados com cannabis há anos. Foi ela também quem protagonizou o documentário Ilegal, quando ela ainda não plantava.
Plantando a cannabis desde março para a extração da solução usada por Sofia, a família de Margarete passou meses desprotegida pela lei. É que, segundo a Lei de Drogas (11.3433/2006), é crime cultivar ou colher “plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. Sim, crime.
Ainda assim, mesmo com a possibilidade de acabar criminalizada, não causou medo nem desconfiança em Margarete: "Sempre senti que plantar o remédio da minha filha era um direito legítimo. Por que vou esconder? É para poder fazer o remédio para a minha família. Quando fui despachar com a promotora, ela me olhou e disse que faria o mesmo que faço. Mas ela quis garantir que não tivesse nenhum problema: 'Vai que um policial desavisado faz algo contra vocês'", conta ela. O salvo conduto acabou assinado pela juíza Lídia Maria Sodré de Moraes, de Botafogo, na zona sul.
Há, claro, barreiras ainda muito retrógradas para tratar do tema. A falta de informação leva a distorções quanto ao uso medicinal da maconha. "São preconceitos. Não só da doença, mas do tratamento. Não só com a epilepsia, mas com a esclerose múltipla. Existem questões de patentes, de laboratório. E imagine que uma planta serve para tudo isso... Então, quero essa patente para mim", critica Alexandre, em fala ao Huff.
"Alguns médicos não querem se capacitar. É uma planta. Perfume é de feito de quê? Alface, chicória, cheiro verde... Por que a maconha não pode não ser um medicamento?", indaga Alexandre. "Se tua mãe e teu pai precisassem da maconha, esse é o caminho que você faria? Tem a planta, tem a terra, por que não pode fazer o medicamento?", completa.
Desde 2014, foram 1.947 solicitações de importação de produtos à base de derivados da maconha enviadas à Anvisa, sendo 1.802 autorizadas. Mas, mesmo com os avanços, o remédio industrializado ainda é proibitivo. "Se importar é R$ 5 mil e demora três a quatro meses para chegar. Burocracia imensa. Precisa ser diferente. Estamos lidando com vidas", critica Alexandre.
Margarete, por sua vez, enxerga maiores aberturas para a planta. "O uso medicinal é muito tranquilo hoje em dia. É só um maluco ou outro que fala bobagem nas redes sociais. O uso medicinal é uma porta de entrada de outros usos. O uso recreativo, religioso, sei lá... Abre porta para debate sem preconceito. Senti muito isso. Estou há três anos nisso. Lá atrás, quando fazíamos os debates, todos ficavam se olhando, mas todo mundo se sensibiliza", conta Margarete.
Para o advogado Emílio Figueiredo, 38, da Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas e que representa diversos clientes com problemas relacionados ao proibicionismo da maconha, a manifestação da Justiça pelas famílias cariocas deve ser considerada histórica. "Tivemos um avanço muito concreto. É a primeira vez que o Judiciário reconhece o uso da maconha medicinal. São pessoas que cultivam para tratar os filhos. Eles não correm o risco de serem criminalizados. É uma decisão inédita."
Ele não acredita em acaso. Para Emílio, o fato de as famílias na capital fluminense estarem unidas para o cultivo e terem se organizado em grupos de autocultivo acabou resultando nas vitórias. "Não é uma coincidência. Tem uma cena muito forte dos cultivadores da cannabis medicinal no Rio. Temos associações que ajudam no apoio a quem precisa também, como a Abracannabis e a Apepi, que a Margarete participa, inclusive."
Mas e a legalização para o chamado uso recreativo? Margarete torce para uma abertura que vá nesse sentido também. "Sou super a favor a legalização do uso recreativo. É tão legítimo quanto o medicinal. Tem gente que fala em priorizar o medicinal, mas não acho. Acho que o recreativo é tão urgente quanto. É tudo questão da guerra às drogas. A quantidade de gente que morre."
A solução é a informação: "É uma decisão política. Talvez no Judiciário a gente consiga. Mas é uma luta por informar. E, através do uso medicinal, é um passo para abrir a informação."

Fonte: HuffPost Brasil

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Comissão Europeia aprova uso de medicamento da Bial para epilepsia em crianças

A Comissão Europeia aprovou a indicação terapêutica de um medicamento da farmacêutica portuguesa BIAL para a epilepsia. O medicamento destina-se a adolescentes e crianças com mais de seis anos.
 Em comunicado enviado esta terça-feira, a BIAL refere que o medicamento para a epilepsia “está agora indicado em todos os países da UE como terapêutica adjuvante em doentes adultos, adolescentes e crianças com mais de seis anos com crises epiléticas parciais, com ou sem generalização secundária”.

A epilepsia é uma das doenças neurológicas mais comuns em todo o mundo, atinge 50 milhões de pessoas, sendo que só na Europa, onde há 6 milhões de portadores, são detetados todos os anos 100 mil novos casos em crianças e adolescentes. Segundo a empresa, esta aprovação tem como base “vários estudos que demonstram a eficácia e segurança deste fármaco, nomeadamente ao nível neurocognitivo (capacidade de concentração, processamento de informação e memória)”.

O acetato de eslicarbazepina representa o primeiro fármaco de patente nacional. Este medicamento para a epilepsia representou “um marco histórico” para a indústria farmacêutica portuguesa quando, em 2009, foi aprovado pela Comissão Europeia. Em 2013, este medicamento foi também aprovado pelo regulador norte-americano, a Food and Drug Administration (FDA). Atualmente, é comercializado em vários países europeus (entre os quais o Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha e França) e nos EUA e Canadá.

Nos últimos anos, em média, BIAL tem canalizado mais de 20% da sua faturação anual (mais de 40 milhões de euros) para I&D centrada nas neurociências, no sistema cardiovascular e imunoterapia alérgica. “A investigação de novas soluções terapêuticas continuará a ser um dos alicerces da expansão internacional do grupo BIAL, atualmente com produtos disponíveis em mais de 55 países”, sublinha a farmacêutica.

Fonte: Observador

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Anny Fischer redescobriu o mundo após três anos de tratamento

O colchão está no piso da sala cercado de travesseiros. Mas eles não representam mais um obstáculo para a pequena Anny Bortoli Fischer, 8 anos. A menina tem ultrapassado limites jamais imaginados pela família. “Esses dias fui buscá-la debaixo do sofá”, relembra a mãe, Katiele Fischer, 35, aos risos. A menina redescobriu o mundo. Sons, o volume da voz e sorrisos. Uma infância tardia que voltou a ganhar tons de alegria e tranquilidade após o uso do canabidiol (CBD), uma das substâncias derivadas da maconha. Em novembro, completou três anos desde que Anny tomou a primeira dose e a vida de toda a família começou a mudar.
 A pequena sofre de um problema genético raro. Antes do início do tratamento com o canabidiol, tinha, em média, 60 convulsões por semana. As crises eram provocadas por um tipo de epilepsia grave, causada pela síndrome CDKL5. “Como vou explicar o que sinto quando tenho de acordar meia-noite para pedir que ela diminua o volume dos sons? Como vou explicar o que sinto quando vou acordá-la e ela se espreguiça? Isso é tudo para mim, são as coisas mais lindas”, afirma a mãe. Encontrar palavras para descrever detalhes tão comuns e simplórios parece besteira, mas enchem de lágrimas os olhos de Katiele e do pai, Norberto Fischer, 47. Aos poucos, a filha mais nova do casal tem desvendado um universo próprio. As convulsões saíram de cena. No lugar, entraram as gargalhadas repentinas, as birras para escovar os dentes e, principalmente, os olhares atentos e curiosos. “Não sabemos o que ela entende, mas que ela entende o que falamos é certo. Tem reações”, comenta a mãe.
Para quem viu Anny há dois anos ou mais, é inevitável se surpreender. Mesmo cansada depois da fisioterapia, quando os pais abrem a porta do carro e começam as brincadeiras, ela esbanja sorrisos. Como as crianças na idade dela, faltam alguns dentes no riso da menina, mas sobra espontaneidade. No colchão no piso da sala, como uma bailarina, joga as pernas de um lado para o outro e, quando ninguém está olhando, levanta o tronco sozinha. “Sem vergonha você, Anny. Na hora da foto você não faz isso”, brinca Katiele. A boneca de pano, como pais e avós costumavam descrevê-la por conta da falta de movimentos próprios, ganhou vida e cresceu. “As minhas costas que o digam”, complementa a mãe.
 Com convulsões esporádicas e menos intensas, o clima na casa dos Fischer é outro. As preocupações e os medos ainda existem, mas já não guiam a vida da família. Uma atmosfera de descontração e felicidade contagia quem entra pelo portão branco da residência no Setor Habitacional Taquari. Dias de sol ou chuva são sempre uma oportunidade de festa e bagunça, e Anny adora uma folia. Deitada na rede, na varanda de casa, ela vibra com os respingos da água. “Dentro dos limites impostos pela síndrome, ela está muito bem”, avalia Katiele. “Está mais presente no mundo e percebendo o mundo.”
 Diante da melhora da pequena Anny, nem as fronteiras geográficas são impensáveis. Em outubro, a família viajou aos Estados Unidos para conhecer o casal que tornou as mudanças viáveis: Penny e Dustin Howard. Eles são os pais de Harper, uma menina de 5 anos que tinha a mesma síndrome de Anny. Foi por uma publicação de Dustin nas redes sociais que Katiele descobriu o CBD e seus benefícios. Infelizmente, a criança americana morreu em janeiro deste ano nos braços dos pais com uma infecção respiratória. “O encontro foi emocionante. Não conseguia parar de chorar”, relembra Katiele. Os assuntos, as experiências, os questionamentos e as alegrias daquelas duas famílias, mesmo distantes fisicamente, eram similares. Para o jornal norte-americano Dallas News, que registrou o momento, era como se a casa dos Howards estivesse em festa como na véspera da noite de Natal.
 
 
 
 
 
 Fonte: Correio Braziliense

 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Epilepsia na infância: a importância e o poder da informação

Entender a doença é compreender que o paciente pode ter uma vida normal
Que a falta de informação pode ser considerada o primeiro passo em direção ao preconceito, muitas pessoas já sabem. Porém, além de se informar melhor sobre os mais diversos assuntos, o que mais poderia ser feito? Uma boa alternativa é: encarar o outro de igual para igual, entendendo que cada indivíduo tem suas peculiaridades.
Essa postura também vale com relação a doenças que provocam diferentes manifestações e podem causar estranhamento. As crianças, por exemplo, nem sempre sabem como agir a situações distintas das que estão acostumadas a vivenciar, o que pode gerar, num primeiro momento, afastamento e medo. Um exemplo que se encaixa nesse cenário é o convívio com a epilepsia, doença muito comum na infância. Discutir essas questões pode ser uma importante ferramenta para facilitar a vida social do paciente nessa fase da vida e fortalecer sua segurança.
Com incidência de cerca de 50 milhões de pessoas no mundo e 3 milhões de brasileiros, conforme a Liga Brasileira de Epilepsia (LBE), a doença é caracterizada por descargas elétricas anormais e excessivas no cérebro, que são recorrentes e geram as crises epilépticas. O problema pode ser entendido como uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido desencadeada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos e, muitas vezes, não tem a causa identificada. Os episódios podem durar de segundos a minutos, no momento em que o cérebro emite os sinais incorretos.
As crises e a antecipação delas causam grande angústia na vida de pais e crianças com epilepsia, o que prova que quanto maior for o conhecimento sobre o assunto, maior a segurança dos pacientes e pessoas que estão por perto. Segundo a Dra. Maria Luiza Manreza, doutora em Neurologia pela USP, “entender a epilepsia é também compreender que quem tem a doença na grande maioria das vezes pode viver uma vida normal. Mesmo porque, com o avanço da medicina, atualmente 70% dos episódios são controlados por meio de medicamentos”.
Quando as crises não são devidamente controladas, podem causar impacto negativo na rotina e vida social da criança, impedindo o seu desenvolvimento de maneira saudável. Além disso, a falta de um diagnóstico precoce e tratamento adequado podem agravar a situação como um todo. “Não há uma causa certa para a epilepsia, porém, no início da vida, a mais comum é a origem genética. Além dela, são consideradas também lesões cerebrais que podem ocorrer durante o nascimento ou doenças como a encefalite, meningite ou sarampo”, pontua a Dra. Maria Luiza.
A compreensão dos pais, além da busca pelo auxílio médico, é determinante para o futuro do filho, pois influencia diretamente na imagem que ele desenvolve de si mesmo e de sua doença. A criança deve crescer em um ambiente de aceitação e amor, que contribua com seu autoconhecimento e autoestima, promovendo um bom convívio com a epilepsia.

Fonte: Segs

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Projetos na UFRJ e Fiocruz devem levar ao desenvolvimento de medicamento á base de maconha

O verde da maconha em breve pode ganhar tons amarelos, reproduzindo as cores nacionais do Brasil. Cada vez mais utilizados como tratamento alternativo para diversas condições de saúde, dos enjoos provocados pela quimioterapia contra o câncer a convulsões incontroláveis por remédios convencionais em crianças, compostos da planta, como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), são alvo de projetos de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que devem levar ao desenvolvimento do primeiro fitomedicamento à base de maconha no país. Com isso, o uso das substâncias ganhará rigor científico e padronização ainda inéditos no mundo, guiando sua aplicação terapêutica.
— A situação que temos hoje é complicada — justifica Virgínia Martins Carvalho, professora de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da UFRJ. — A maconha e substâncias nela contidas têm propriedades terapêuticas reconhecidas internacionalmente, e disso não há dúvidas, mas ainda há uma confusão muito grande para seu estudo, principalmente por conta da proibição, que dificulta bastante as pesquisas.
Diante disso, Virgínia apresentou e teve aprovado em novembro um projeto de extensão na instituição, intitulado Farmacannabis, cujo objetivo principal é analisar a composição dos extratos de maconha importados ou produzidos artesanalmente, e clandestinamente, no Brasil com fins medicinais. No caso dos extratos importados, embora após muitos protestos e ações na Justiça a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha autorizado em caráter excepcional sua entrada no país para o tratamento de crianças que sofrem com a chamada epilepsia refratária, em que os remédios comuns não foram capazes de controlar as convulsões, até recentemente estes produtos eram comercializados como suplementos alimentares nos EUA, e por isso sua fabricação não precisa obedecer a padrões estritos como os de medicamentos.

 Projeto orçado em R$ 250 mil

O problema é tamanho que avaliações feitas pela Administração para Alimentos e Drogas (FDA, o órgão fiscalizador do setor no país) de alguns dos extratos mais vendidos nos EUA, entre 2015 e 2016, verificou que quase nenhum deles continha as proporções de CBD e/ou THC indicadas em seus rótulos. Além disso, muitas famílias brasileiras não têm condições de arcar com a compra dos extratos importados — um vidro dos óleos americanos custa por volta de US$ 300 (cerca de R$ 1 mil), e dependendo do peso e sintomas da criança, são utilizados até dois deles por mês —, e acabam plantando maconha e fazendo os compostos em casa, ou obtêm estes de fabricantes artesanais.
— Ninguém sabe de fato qual o grau farmacológico destes extratos, isto é, qual a concentração de CBD e THC neles — conta Virgínia. — Isto dificulta o controle e a eficácia da dosagem, já que, embora o médico possa prescrever e acompanhar o tratamento, ele não tem ideia de exatamente quanto CBD e THC a criança está tomando. Com o Farcannabis, vamos dar suporte analítico tanto para os pacientes e suas famílias quanto para os médicos, além de proporcionar aos estudantes experiência em análises toxicológicas e interação clínica pelo contato com pacientes e médicos.
Ainda de acordo com Virgínia, até o fim do projeto, inicialmente orçado em quase R$ 250 mil, também deverá estar em funcionamento uma plataforma digital de acesso gratuito na qual, mediante inscrição ou cadastro, médicos, familiares e alunos poderão obter mais informações sobre os possíveis usos medicinais da maconha, os resultados das análises feitas durante a iniciativa e como elas foram realizadas.
— A maconha tem cerca de 70 canabinoides e seus ácidos, cada um deles com suas propriedades e efeitos — destaca Virgínia. — Falar do canabidiol como se não estivéssemos nos referindo à planta procura dar uma ideia de afastamento da maconha, o que é uma falácia. Nenhum destes canabinoides existe isolado, e precisamos saber como eles atuam entre si, em particular o THC e o CBD. Eles têm uma ação dinâmica no sistema nervoso central, num efeito que chamamos de “comitiva”, que é variável de pessoa a pessoa. E é por isso que conhecer suas proporções nos extratos é muito importante. Sabemos que estes extratos ajudam, mas ainda precisamos saber como dentro de um planejamento terapêutico segundo sua composição e dosagem, isto é, porque algumas pessoas se beneficiam mais de extratos que tenham mais THC e outras de extratos com mais CBD. E para isso temos que estudá-los. Só com este monitoramento e os relatos clínicos poderemos conhecer melhor esta associação.
Esta investigação também será fundamental para o projeto na Fiocruz. Lançado em março deste ano com a criação de um grupo de trabalho do qual a própria Virgínia faz parte, o Fio-cannabis discute a viabilidade e formatação de uma ampla e longa pesquisa científica com intuito de, provada sua eficácia e segurança, eventualmente fabricar um fitomedicamento de Cannabis para alívio da epilepsia refratária.
— A ideia é estudar os extratos tanto do ponto de vista de toxicidade quanto de segurança, além de fazer ensaios pré-clínicos e clínicos das fases 1, 2 e 3 para avaliar sua eficácia, isto é, seguir todo o processo necessário para o registro de um medicamento no Brasil junto à Anvisa com foco na epilepsia refratária — diz Hayne Felipe da Silva, diretor do Instituto de Tecnologia em Fármacos da Fiocruz (Farmanguinhos), que encabeça a iniciativa.
Com uma tríade de segurança, eficácia e qualidade igual à de qualquer outro medicamento, o pesquisador pretende chegar a um produto feito no Brasil com custo menor e que possa vir a ser distribuído pelo SUS (Sistema Único de Saúde, do governo federal), além de dar a ele o rigor de medicamento que não há nos EUA.
De acordo com Silva, a expectativa é de que até o fim deste ano o projeto de pesquisa definindo, entre outros fatores, como ela será feita, quantos voluntários serão necessários etc, já esteja pronto para ser encaminhado à Anvisa, com os estudos começando na prática já no ano que vem. Ao todo, ele espera que o processo de desenvolvimento do fitomedicamento leve de cinco a dez anos.
— Temos que começar logo, ainda mais por se tratar de substâncias que têm ação no sistema nervoso central, um complicador adicional.
Silva conta, no entanto, que um dos principais obstáculos que ainda faltam ser superados para dar início efetivo à pesquisa é justamente encontrar um fornecedor regular dos extratos de Cannabis, seja do Brasil ou do exterior, com a qualidade e padrão de composição necessários para uma investigação científica do tipo. O que é certo, porém, é que a Farmanguinhos não vai plantar maconha e produzir os compostos.
— A Farmanguinhos é uma indústria de transformação, então vamos fazer com este produto o que fazemos com os outros medicamentos: compramos o princípio ativo e formulamos o remédio.

 Mudança de patamar dos medicamentos

Na outra ponta deste esforço de duas das maiores instituições de pesquisa do Brasil estão pessoas como Sofia. A menina, portadora de CDKL5, doença rara que tem como um de seus sintomas crises convulsivas, é filha da advogada Margarete Santos de Brito, presidente da Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi), e uma das crianças que estão se beneficiando da autorização da Anvisa para importação dos extratos de Cannabis. Segundo Margarete, atualmente Sofia toma um misto de extratos de Cannabis importados e artesanais, além de outros remédios e tratamentos convencionais para sua condição, que ela estima terem reduzido em 70% seus ataques epiléticos.
— Para a gente, estas pesquisas mudam completamente o patamar dos fitomedicamentos de Cannabis no Brasil — avalia. — Como os extratos importados também vão ser testados, teremos um controle de qualidade que não é realizado nem nos EUA, já que as informações em seus rótulos não necessariamente corresponde à realidade.
E a preocupação de Margarete vem de experiência própria. Ela conta que recentemente adquiriu um extrato americano que dizia ser livre de THC, o canabinoide de efeito euforizante da maconha e um dos mais presentes na planta. Antes de dá-lo a Sofia, porém, ela decidiu prová-lo e acabou tendo uma “onda”, o que a fez decidir não administrá-lo à menina.
— Estes extratos entram no Brasil a preço de ouro, são extremamente caros e não têm necessariamente qualidade — reclama. — Já os produzidos artesanalmente aqui podem ser tão ou mais eficientes do que os que vêm dos EUA, mas com eles também não sabemos quais os percentuais de canabinoides que estamos dando para as crianças. Mas, com estas pesquisas, vamos saber.
Para Margarete, também é relevante o fato de os estudos estarem nas mãos de duas renomadas instituições de pesquisa no país.
— Isto serve como um aval de que a maconha pode ser sim um remédio — destaca. — E por mais que este processo de investigação possa demorar, ter um fitomedicamento de Cannabis verde-e-amarelo, ou na verdade mais verde que amarelo, será uma realização muito importante.
Enquanto isso, contudo, Margarete procura garantir a continuidade do tratamento da filha. Na última semana de novembro, a advogada obteve na Justiça um habeas corpus preventivo que proíbe as polícias Civil e Militar do Rio de detê-la e/ou apreender as plantas de maconha que cultiva em casa para produzir os extratos de Cannabis artesanais que dá a Sofia. O salvo-conduto é válido até que seja julgado em definitivo processo que ela move na 14ª Vara Federal do Rio de Janeiro em que pleiteia permissão para cultivar a planta ilícita com fins medicinais.

Fonte: Extra










quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Conheça a síndrome de Lennox-Gastaut

Caracterizada por apresentar convulsões de diversos tipos, a síndrome de Lennox-Gastaut é um motivo ainda maior de preocupação para os pais. Isso porque esse tipo raro de epilepsia da infância pode causar também um atraso do desenvolvimento neurológico e psicomotor nas crianças afetadas.
A síndrome ainda não tem cura. Porém, um método de tratamento polêmico, que diminui o número de convulsões diárias, vem mostrando ótimos resultados e melhorando a qualidade de vida dos portadores. E ele já é utilizado no Brasil.

Maconha e a Síndrome de Lennox-Gastaut

Desde o final de 2014, o uso do canabidiol (CBD), um dos 80 derivados canabinoides da Cannabis sativa (maconha), está regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para o tratamento de epilepsias graves. Segundo a entidade, que revisará essa decisão neste ano, a regra restringe a prescrição às situações em que os métodos já conhecidos não apresentam resultados satisfatórios.
O uso compassivo ocorre quando um medicamento novo, ainda sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pode ser prescrito para pacientes com doenças graves e sem alternativa terapêutica satisfatória com produtos registrados no país.
Para Mauro Luiz de Britto Ribeiro, membro do CFM, o tratamento alternativo é válido, especialmente, para portadores de epilepsias da infância e da adolescência, tais como as encontradas nas síndromes de Dravet, Doose e Lennox-Gastaut. Segundo ele, esse é o principal grupo de pacientes refratários aos métodos tradicionais.
O protocolo para uso do canabidiol prevê, ainda, que o remédio deve ser utilizado em adição às medicações que o paciente vinha utilizando anteriormente. Ou seja, ele não deve substituir completamente outras drogas, devendo ser administrado de forma associada.

Estudo comprova a eficácia do medicamento
 
Apesar de polêmico, um estudo realizado pela Academia Americana de Neurologia, em parceria com o laboratório GW Pharmaceuticals, no ano passado, indicou que a maconha reduz as crises de crianças com epilepsias graves - caso, por exemplo, dos portadores da síndrome de Lennox-Gastaut.
A pesquisa teve 213 participantes, incluindo crianças e adolescentes, com uma idade média de 11 anos. Nela, os portadores receberam diariamente, por via oral, um extrato líquido à base de CBD. Os resultados mostraram melhoria em seus quadros.
Para as 137 pessoas que completaram o estudo de 12 semanas, o número de convulsões teve uma redução média de 54%. Entre os 23 portadores de síndrome de Dravet que participaram, a queda foi de 53%.
Para os 11 com síndrome de Lennox-Gastaut, o número das chamadas apreensões átonas, que causam uma perda súbita do tônus muscular, teve diminuição de 55%. Foram registrados 12 pacientes que pararam de tomar o remédio devido aos efeitos colaterais, tais como sonolência, diarreia, cansaço e diminuição do apetite.
De acordo com o diretor do Centro de Epilepsia da Universidade de Nova Iorque e membro da Academia Americana de Neurologia, Orrin Devinsky, a eficácia da droga ainda deverá ser testada em novos estudos. No entanto, os resultados já servem de alento para as crianças e para seus pais, que têm buscado uma resposta para esses ataques debilitantes.

Fonte: Vivo Mais Saudável
 


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Anvisa aprova registro de remédios genéricos inéditos no Brasil para tratar câncer, dor e crise convulsiva

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, na segunda-feira (10/10), o registro de três medicamentos genéricos inéditos no Brasil. Isso significa que os pacientes que precisam dessas medicações poderão encontrar uma nova opção no mercado, inclusive para comparar o preço.

Os três novos remédios genéricos foram aprovados para o tratamento de câncer de próstata (cabazitaxel), dores leves e moderadas (ibuprofeno arginina) e crises convulsivas (levetiracetam).

Na prática, quando um medicamento genérico inédito é aprovado, o medicamento de marca passa a ter um concorrente no mercado o que pela lei da oferta e da procura é melhor para o consumidor.O remédio genérico já entra no mercado a um preço mais barato que o produto de marca. Essa redução representa um desconto de pelo menos 35% em relação ao preço máximo da tabela da Anvisa.

Fonte: Mídia Clara

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Evento debate uso medicinal e questões judiciais de canabinoides

Ações terapêuticas e aspectos judiciais relacionados à utilização clínica de substâncias obtidas da Cannabis sativa, conhecida popularmente como maconha, foram abordados no Fórum “Uso terapêutico dos canabinoides: aspectos moleculares, clínicos e judiciais”, organizado pelo Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). 

 “Canabinoide: vilões ou heróis?”

Questões históricas e a evolução do uso da maconha pela medicina foram abordados durante a palestra “Canabinoide: vilões ou heróis?”, ministrada pelo professor Rafael Dutra da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Já usada de forma medicinal há seis mil anos, com conhecimento de seus efeitos farmacológicos e também dos efeitos colaterais de seu uso excessivo, a Cannabis já era trabalhada em sociedades como a chinesa e indiana. 
Segundo o pesquisador, foi na década de 1920 que os efeitos negativos sobressaíram e vários países baniram o uso da planta. Este panorama mudou na década de 80, quando a proibição foi repensada por algumas nações e a Cannabis foi liberada não apenas para fins medicinais, como também recreativo. A discussão ainda continua por todo o mundo, já que a maconha é a droga ilícita mais consumida. “Muitos pesquisadores chamam atenção para que o uso recreativo da Cannabis é a porta de entrada para outras drogas ilícitas”, destaca Dutra.
Em 1965, pesquisadores conseguiram sintetizar os primeiros canabinoides, compostos da planta que podem ser usados para fins medicinais por apresentarem efeitos benéficos. Esses estudos abriram espaço para um olhar científico sobre a Cannabis, com novas pesquisas ao longo dos anos, muitas apresentando possíveis indicações em tratamentos psicológicos e neurológicos.


 Canabinoides na medicina

Um dos canabinoides que vem se apresentando como alternativa terapêutica é o Canabidiol, especialmente para tratamentos contra o estresse. Isso é o que apontam pesquisas realizadas na Universidade de São Paulo (USP),  de acordo com a professora Aline Campos. A pesquisadora apresentou alguns resultados durante a palestra “Mecanismos envolvidos nos efeitos anti-estresse do Canabidiol”. 
O estresse faz parte do cotidiano das pessoas e produz um “efeito elástico”, afirma Alline: quanto mais situações de estresse um indivíduo é submetido, menor sua capacidade de resistência. Segundo ela, cerca de 450 milhões de pessoas no mundo sofrem de transtornos neuropsiquiátricos causados pelo estresse e pesquisas apontam que medicamentos como alguns antidepressivos não alcançam os efeitos desejados, ao passo que experimentos têm mostrado que o Canabidiol manifesta efeitos como redução de ansiedade. O uso da Cannabis em forma de cigarro, porém, não reproduz os mesmos efeitos de canabinoides sintéticos, considerando que a planta apresenta os mais diversos compostos, em diferentes níveis. Para isso, a pesquisadora chama a atenção à automedicação: “Cannabis como medicina não é a mesma usada para fumar. A utilização desses constituintes de forma inapropriada pode levar ao aparecimento de muito mais toxicidade do que efeito terapêutico.”
O professor da UFJF Marcos Moreira também alertou ao fumo da Cannabis durante sua palestra “Eficácia e Segurança dos Canabinoides nos Distúrbios Neurológicos”. “O uso da maconha na forma inalada está associado a um pior desempenho cognitivo, e sua suspensão reverte apenas parcialmente esse déficit. Já o uso do Canabidiol parece não ter relação com o declínio cognitivo”, esclarece Moreira. A utilização dos canabinoides surgem também como alternativa para doenças relacionadas a transtornos de movimento, epilepsia e esclerose múltipla, doença neurológica onde as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares. Moreira destaca que o tratamento para a esclerose múltipla é apenas sintomático, ou seja, não é indicado para tratar a doença, mas sim sintomas como disfunção vesical urinária e movimentos involuntários.

 Cannabis e saúde pública

Os canabinoides só foram regulamentados para fins terapêuticos no Brasil em 2015, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Porém, tais medicamentos são adquiridos apenas pela importação e existe uma série de critérios e procedimentos que devem ser seguidos, garantindo que o uso seja feito apenas por pacientes que necessitem daquele tratamento e tenham prescrição médica. De acordo com Edgar Souza Ferreira, procurador municipal de Juiz de Fora, durante a palestra “Aspectos judiciais do uso terapêutico do Canabidiol”, a maior dificuldade em relação a pesquisas e ao tratamento pelos canabinoides está relacionada à falta de registro dos medicamentos pela Anvisa, sendo acessível apenas a quem possui condições de pagar por sua importação. “Os estudos só  terão alcance a partir do momento em que o Canabidiol for acessível a todos, e no Brasil, o único jeito de um fármaco ser acessível a todos é através do Sistema Único de Saúde (SUS)”, explica Ferreira.
Para quem não pode pagar pela importação, há leis que determinam o custeio desses gastos pelo SUS, já que, de acordo com a Constituição Federal, “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. Conseguir esse pedido através da justiça, porém, apresenta uma série de dificuldades devido ao impasse entre o uso recreativo e medicinal. Em Juiz de Fora, por exemplo, houve apenas uma ação judicial para importação do Canabidiol, por um paciente com epilepsia, que ainda assim foi indeferida pelo juiz, que afirmou não existir evidências clínicas e terapêuticas suficientes para a concessão do medicamento. “O único jeito que o paciente tem de conseguir o tratamento com Canabidiol pelo SUS é através da justiça, mas diante da diversidade do pensamento e da falta de uniformização das decisões, a pessoa tem que ‘dar sorte’ de passar com um juiz que entenda e conceda o pedido”, diz o procurador.






Fonte: UFJF Notícias

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Disfunção respiratória pode estar associada a morte súbita em pacientes com epilepsia

As estatísticas apontam que, por dia, seis pessoas são acometidas por morte súbita associada à epilepsia (Sudep) nos Estados Unidos. Embora os números sejam expressivos, o fenômeno ainda é desconhecido para o público em geral e para os profissionais de saúde.
Não há na literatura médica clareza sobre os mecanismos que levam à morte súbita de pacientes com quadro de epilepsia; são justamente esses mecanismos que pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP buscaram compreender no estudo recém-publicado no jourrnal of Physiology, um dos mais importantes periódicos na área das Ciências Biomédicas. Os resultados sugerem que disfunções respiratórias podem estar associadas aos casos de Sudep.
“Sabemos que os distúrbios no sistema cardiorrespiratório são considerados fatores de elevado risco para óbito”, afirma um dos responsáveis pelo estudo o pesquisador do ICB, Thiago S. Moreira.
Evidências mostram que durante as crises de epilepsia o paciente pode sofrer arritmias e depressão respiratória. Para verificar a possível relação entre a Sudep e o sistema respiratório, os pesquisadores utilizaram animais geneticamente selecionados, a cepa denominada Wistar Audiogenic Rat (WAR) desenvolvida pelo grupo do professor Norberto Garcia-Cairasco, do Departamento de Fisiologia da FMRP, que quando submetidos a estímulos sonoros, respondem com crises tônicos-clônicas e límbicas, semelhantes às crises de epilepsia.
“Durante essas crises, foi percebida uma grande redução na atividade respiratória e na captação de oxigênio”, explica Leonardo Totola, doutorando do Laboratório de Controle Cardiorrespiratório do ICB, orientando de Moreira. Ana Carolina Takakura, professora do ICB e colaboradora do projeto, explica que a disfunção respiratória acontece em “decorrência de alterações em regiões específicas do sistema nervoso central, responsáveis por controlar a respiração”.
Os resultados obtidos no estudo incorporam novas informações sobre os mecanismos de controle respiratório em modelo genético de epilepsia. Durante uma crise, pode haver comprometimento de áreas do sistema nervoso que induzem disfunções respiratórias, que por sua vez, podem contribuir para o quadro de Sudesp.
O estudo obteve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Programa de Excelência Acadêmica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
 
Fonte: Jornal da USP

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Anvisa sugere produção nacional do canabidiol

O canabidiol (CBD) é um dos grandes desafios da saúde nacional quando o assunto é terapia medicamentosa. Estudada e liberada em vários países pelo mundo, no Brasil, a droga, que traz um dos compostos da maconha, ainda é tabu. Isso porque, apesar da liberação para importação com prescrição médica para tratamento de saúde, o CBD é caro, já que não há produção local. Cada ampola com 10 ml da substância não sai por menos de R$ 1 mil, fora os impostos. Levando em conta que o tratamento mensal necessita em média de três a quatro ampolas, os pacientes podem chegar a desembolsar mais de R$ 5 mil por mês. Valor bem acima das condições da maioria dos brasileiros.

Sobre esses aspectos, o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Jarbas Barbosa, enfatizou a necessidade de o Brasil refletir sobre uma fabricação brasileira da droga.
Para ele, o CBD é a principal aposta de qualidade de vida para pessoas com síndromes raras, a exemplo da microcefalia e de doenças degenerativas. O gestor destacou, ainda, que o País, inclusive, pode tomar a dianteira de estudos sobre o trato dos agravados da Síndrome Congênita do Zika com o derivado da maconha. “Para algumas doenças, como as síndromes neurológicas da infância e da adolescência, que apresentam quadros de múltiplos episódios de convulsão e que não têm na medicação atualmente disponível um bom resultado, o canabidiol tem se revelado uma medicação muito eficaz”, afirmou.
Ele ressaltou que a Anvisa está fazendo sua parte, dando celeridade na avaliação das importações. A agência contabiliza desde o ano passado mais de 1,4 mil pedidos autorizados, com liberações em dois a quatro dias. Barbosa comentou que o Brasil precisa achar caminhos para, na verdade, popularizar o acesso financeiro à droga. Como a importação é feita individualmente, o custo excede o poder de compra da maioria da população, que acaba buscando na Justiça obrigar o SUS a pagar o tratamento. E as judicializações demoram. No entanto, não há nenhum pedido de registro de um CBD brasileiro, até pelo problema legal de plantar para produzir o remédio. “Teria que se fazer algumas modificações na própria questão de segurança do País para permitir o plantio.”
A presidente da Liga Canábica de Pernambuco, Elaine Cristina, 33 anos, contou que todos os atuais obstáculos para a aquisição da medicação têm feito várias famílias recorrerem a um comércio clandestino de CBD no Rio de Janeiro e na Paraíba. Os laboratórios caseiros vendem o remédio por R$ 120. Mãe de João Pedro, 5 anos, ela não conseguiu parecer favorável na Justiça. “Ele fazia 24 convulsões por dia antes. E agora, com o canabidiol, tem duas ou três.”

Fonte: Folha Pe

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Comissão aprova dispensa de carência em benefícios do INSS a portador de Lúpus ou epilepsia

A Comissão de Finanças e Tributação aprovou projeto que inclui a epilepsia e o lúpus entre as doenças cujos portadores são dispensados de cumprir o prazo de carência para usufruir dos benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez (PL 7797/10). 

O projeto altera a Lei 8.213/91, que trata dos Planos de Benefícios da Previdência Social. 

A norma dispensa portadores de determinadas enfermidades (como tuberculose ativa, hanseníase e câncer), desde que segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), de contribuir por 12 meses antes de ter acesso ao auxílio-doença e à aposentadoria por invalidez. 

Adequação 

 A proposta é oriunda do Senado e recebeu parecer favorável da relatora, deputada Soraya Santos (PMDB-RJ). Coube à Comissão de Finanças e Tributação analisar apenas a chamada “adequação orçamentária” do projeto, ou seja, seus efeitos sobre o Orçamento federal. 

Soraya Santos: emendas para adequar despesas ao Orçamento federal
O texto, segundo a relatora, tem o potencial de ampliar despesas com os benefícios do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez 

Soraya Santos apresentou uma emenda para determinar que a dispensa da carência só será colocada em prática no ano seguinte ao da sanção da lei oriunda do projeto. Isso daria tempo para que o impacto da proposta fosse incluído no projeto orçamentário que entraria em vigor no ano seguinte. 

Avaliação 
 
A relatora propôs ainda uma segunda emenda, sugerida pelo deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), que obriga os portadores de lúpus e epilepsia a se submeter a avaliação por junta médica para atestar a incapacidade para o trabalho e a desnecessidade do cumprimento da carência de 12 meses para receber a aposentadoria especial. 

O lúpus é uma doença rara provocada por um desequilíbrio do sistema imunológico. As células atacam os tecidos do próprio organismo, como pele, articulações, fígado, coração, pulmão, rins e cérebro. Entre os sintomas estão fadiga, erupções, sensibilidade aos raios solares e alterações no sistema nervoso. 

Já a epilepsia é uma doença neurológica que, em grau avançado, pode causar convulsões, espasmos musculares e perda de consciência. 

Tramitação 
 
O PL 7797 tramita em caráter conclusivo e será analisado agora pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. 

Fonte: Jornal Floripa
 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Negado benefício previdenciário por invalidez a epilético que exercia atividade para o qual estava capacitado

A 2ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais do TRF da 1ª Região deu provimento à apelação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para reformar a sentença da 1ª Vara da Seção Judiciária de Comarca de Formiga/MG que havia julgado procedente o pedido de aposentadoria por invalidez a um empacotador de supermercado que sofria de epilepsia.

Conforme os autos que o requerente tinha crises de epilepsia desde os dois anos de idade. Na perícia realizada para comprovar a necessidade do benefício, foi constatada a incapacidade permanente somente para a realização de atividades com maquinários e em locais de altura com risco de quedas. A epilepsia do autor estava em fase estabilizada com a utilização de medicamentos.

No voto, o relator do processo, juiz federal convocado Marcos Vinicius Lipienski, sustentou que para a concessão do benefício por incapacidade é necessária a prova de invalidez permanente para qualquer atividade laboral, no caso de aposentadoria por invalidez (art. 42 da Lei nº 8.213/91). O julgador destacou que se houvesse a incapacidade esta seria preexistente à filiação do autor ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), uma vez que o requerente sofria crises epilépticas desde a infância. “No entanto, a perícia informa não haver incapacidade para o trabalho sem máquinas e fora de alturas, e o trabalho de empacotador se enquadra nesses requisitos. Não há, portanto, incapacidade para o trabalho”, reforçou o magistrado.

A decisão foi unânime.

Fonte: Âmbito Jurídico

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Dia das crianças: Estímulos visuais e sonoros dos games e o possível gatilho para uma crise epilética

No Brasil, o Dia das Crianças é comemorado oficialmente em 12 de outubro. Até pela sua origem, muitos pais mantém a tradição em presentear com brinquedos. Hoje em dia, os eletrônicos dominam a preferência, sobretudo os videogames, sonho de consumo da criançada, impulsionadas e movidas pela tecnologia. Mas cabe um alerta sobre os games, em dispositivos portáteis (Tablets e Smartphone), Smarts TVs ou consoles portáteis (Vita, 3DS, Game Boy Color, PSP): há estudos que apontam que estímulos sonoros, visuais ou até táteis podem ser o gatilho para as crises epilépticas, desde que haja predisposição genética. No entanto, segundo o neurocirurgião Luiz Daniel Cetl, ainda não se saiba a causa exata, o efeito de intensa luz intermitente pode interferir no cérebro, manifestar sintomas neurológicos agudos, como é o caso da epilepsia de tipo fotossensível, hoje sabidamente de origem genética.

Um caso de epilepsia de tipo fotossensível ocorreu em 1997, no Japão, durante um episódio do desenho animado da série Pokémon, o que chamou atenção de especialistas, do governo japonês e da produtora responsável pelo desenho. A cena tinha apenas cinco segundos, numa sequência de intensas luzes vermelhas e azuis emitida pelos olhos de um personagem. Foi o suficiente para provocar convulsões em 685 crianças japonesas.

Na época, cientistas italianos descreveram o caso na revista ‘Nature Neuroscience’ e indicaram que certos desenhos animados e videogames poderiam provocar o aumento dos casos de epilepsia associada à sensibilidade a estímulos luminosos. Segundo o estudo, as ativações por certos desenhos animados e videogames estariam associadas ao mecanismo cerebral que pode levar a convulsões. Pessoas sem o problema têm um aumento de atividade de 20% na área do cérebro relacionada à visão, quando são submetidas a variações bruscas de luz. Porém, crianças com epilepsia fotossensível chegam a ter um aumento de 90%, o que significa que seu cérebro fica sobrecarregado ao processar estímulos luminosos muito intensos e contrastantes. A epilepsia fotossensível pode afetar entre 0,5% e 0,8% de todas as crianças de 4 a 14 anos.

“A manifestação da epilepsia depende muito do foco de origem e, ainda que nada esteja definitivamente comprovado, casos como os que ocorreram com crianças japonesas podem ter relação com os estímulos sonoros, interferindo no cérebro e ocasionando crises. Por isso, é preciso bom senso dos pais para educar a criança em não extrapolar o tempo de uso dos jogos e demais aparelhos tecnológicos”, diz o especialista em epilepsia pela Universidade Federal de Medicina (UNIFESP).


Crises Epilépticas
De forma geral, a epilepsia é caracterizada como uma síndrome composta por um conjunto de sintomas que são originados de um grupo de neurônios disfuncionantes, que emitem sinais atípicos ou irregulares, sendo mais prevalente nas crianças. Entre os tipos de crises, a mais conhecida é a crise epiléptica, na qual o indivíduo perde a consciência e cai no chão, apresentando contrações musculares em todo o corpo. Outras manifestações da doença são a crise de ausência, a parada comportamental e, mais raro, o estado de mal epiléptico, cada uma delas com suas características específicas, dependendo da localização do foco epiléptico, de onde se originam as crises.

Na crise de ausência, caracterizada pela curta duração, de décimos de segundo, mas que pode se repetir mais de uma vez ao dia, muitas vezes nem mesmo pessoas próximas conseguem identificá-la. Na parada comportamental, crise parcial complexa e muito mais frequente, o paciente fica parado, com o olho arregalado, como se estivesse fora de si. Por último, o estado de mal epiléptico é o tipo mais grave, pois há uma ativação contínua dos neurônios desfuncionantes que emitem sinais atípicos ou irregulares, de maneira interrupta, podendo causar lesões cerebrais.

“Quando não tratada, a epilepsia interfere psicológica e socialmente na vida do paciente. Nas crianças, os efeitos sociais são maiores, pois envolvem a aprendizagem, as dificuldades escolares, o estigma social. A recomendação é sempre procurar um especialista quando o indivíduo apresenta algum sintoma”, completa Cetl.

Tratamento da Epilepsia
O tratamento convencional para a epilepsia é por via medicamentosa, com uso das chamadas drogas antiepilépticas (DAE), eficazes em cerca de 70% dos casos (há controle das crises) e com efeitos colaterais diminutos. Quando não há controle destes sintomas, outros tratamentos possíveis são a cirurgia e a estimulação do nervo vago. No entanto, apenas um profissional, analisando o caso, poderá indicar o tratamento apropriado para o paciente.

Fonte:Correio de Notícias

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Anvisa aprova novos tratamentos para epilepsia e gota

Medicamentos são indicados para quadros de convulsão relacionados à síndrome de Lennox-Gastaut e elevação do ácido úrico no sangue
A Agência Nacional De Vigilância Sanitária (Anvisa) informou nesta segunda-feira (26) que dois novos medicamentos foram autorizados para os tratamentos da síndrome de Lennox-Gastaut, um tipo raro e grave de epilepsia, e de gota, uma forma de artrite aguda.

O novo remédio aprovado pela Anvisa para o tratamento auxiliar das convulsões associadas à síndrome de Lennox-Gastaut é Inovelon (rufinamida), indicado para crianças com mais de quatro anos e 18 kg e adultos. A doença afeta crianças com idades entre um e oito anos, mas os sintomas continuam a se manifestar ao longo da vida.

O Inovelon será fabricado pela empresa japonesa Bushu Pharmaceuticals Limited, mas o registro no Brasil é da Esai Laboratórios Ltda., localizada em São Paulo.

 Já os pacientes de gota com mais de 18 anos poderão usar, a partir de agora, o Zurampic (lesinurade), indicado para o tratamento da elevação de ácido úrico no sangue. O medicamento aprovado pela Anvisa será fabricado pela empresa Hovione Limited, localizada na Irlanda, e a responsável no Brasil será a Astrazeneca do Brasil Ltda.

Fonte: IG

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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Como identificar e tratar a crise de ausência

As crises de ausência são um tipo de crise epilética que podem ser identificadas quando há perda súbita de consciência e olhar vago, ficando-se quieto e parecendo que se está olhando para o espaço, durante cerca de 10 a 30 segundos.
As crises de ausência são mais comuns em crianças do que adultos, são causadas pela atividade anormal no cérebro e podem ser controladas com medicamentos anti-epiléticos.
Geralmente, as crises de ausência não causam danos físicos e a criança deixa de ter as crises naturalmente na adolescência, porém, algumas crianças podem ter as crises para o resto da vida ou desenvolver outras convulsões.

Como identificar a crise de ausência 

A crise de ausência pode ser identificada quando a criança, durante cerca de 10 a 30 segundos:
  • Perde a consciência de repente e para de falar, caso estivesse falando;
  • Fica parada, sem cair no chão, com o olhar vago, geralmente desviado para cima;
  • Não responde ao que lhe é dito nem reage a estímulos;
  • Depois da crise de ausência, a criança recupera e continua fazendo o que estava a fazer e não se lembra do que aconteceu.
Além disso, outros sintomas da crise de ausência podem estar presentes como piscar ou revirar os olhos, apertar os lábios, mastigar ou fazer pequenos movimentos com a cabeça ou com as mãos.
As crises de ausência podem ser difíceis de identificar, porque podem ser confundidas com falta de atenção, por exemplo. Por isso, é frequente que uma das primeiras pistas que um pai pode ter de que a criança está tendo crises de ausência é que ela está tendo problemas de atenção na escola.

Quando ir ao médico

Na presença dos sintomas de crise de ausência, é importante consultar um neurologista para fazer o diagnóstico através de um eletroencefalograma, que é um exame que avalia a atividade elétrica do cérebro. Durante o exame, o médico pode pedir à criança para respirar muito rapidamente, porque isso pode desencadear uma crise de ausência.
É muito importante levar a criança no médico para fazer o diagnóstico da crise de ausência porque a criança pode ter dificuldades de aprendizagem na escola, desenvolver problemas de comportamento ou isolamento social.

Como tratar a crise de ausência
O tratamento da crise de ausência geralmente é feito com remédios anti-epiléticos , que ajudam a evitar as crises convulsivas de ausência.
Normalmente, até aos 18 anos de idade, as crises de ausência tendem a parar naturalmente, porém é possível que a criança tenha crises de ausência para o resto da vida ou desenvolva convulsões.

Fonte: Tua Saúde